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Suspensão das emendas parlamentares reacende debate sobre execução do Orçamento da União

O futuro das emendas parlamentares e orçamento com o novo acordo entre os Três Poderes
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Nos últimos anos, a discussão sobre emendas parlamentares e o Orçamento da União tem gerado intensos debates entre os Poderes Públicos. O cenário atual mostra que as emendas parlamentares, peças fundamentais no quebra-cabeça orçamentário brasileiro, não só refletem as prioridades de deputados e senadores como também envolvem questões de rastreabilidade, transparência e eficiência na aplicação dos recursos públicos. Mas será que estamos caminhando para uma melhor gestão dessas verbas?

A recente reunião entre os Três Poderes da República, ocorrida em 20 de agosto, trouxe à tona um acordo que promete redefinir a forma como essas emendas serão geridas. O encontro, que durou cerca de quatro horas, foi uma resposta direta à suspensão das transferências de quase todas as emendas parlamentares determinada pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF). Essa decisão acendeu um alerta vermelho, destacando a necessidade urgente de maior transparência e controle na liberação dessas verbas.

O PODER DAS EMENDAS PARLAMENTARES: MAIS QUE UMA QUESTÃO ORÇAMENTÁRIA

Quando falamos em emendas parlamentares e Orçamento da União, estamos lidando com algo que vai muito além de números e cifras. As emendas parlamentares representam uma verdadeira disputa política. Afinal, permitir que parlamentares direcionem verbas para suas bases eleitorais não é apenas uma questão de orçamento, mas também de poder.

Desde 2015, o Congresso Nacional tem ampliado seu controle sobre o Orçamento da União. Para se ter uma ideia, na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2024, foram inseridos mais de R$ 49,2 bilhões em emendas. Esse montante é oito vezes maior do que o registrado há uma década. Contudo, esse aumento exponencial vem acompanhado de preocupações quanto à eficiência e à transparência no uso dos recursos.

Não por acaso, a Procuradoria-Geral da República (PGR) conduz atualmente mais de uma dezena de investigações sobre suspeitas de desvios envolvendo essas emendas. Isso levanta a pergunta: como garantir que o dinheiro público seja aplicado de forma eficiente e responsável?

O FIM DO ORÇAMENTO SECRETO E A BUSCA POR TRANSPARÊNCIA

Uma das maiores polêmicas envolvendo as emendas parlamentares foi o chamado “orçamento secreto”. Em dezembro de 2022, o Supremo Tribunal Federal proibiu essa prática, que se referia às emendas RP9, feitas pelo relator-geral do projeto de Lei Orçamentária Anual. Essas emendas não permitiam identificar o congressista responsável pela destinação da verba, o que abria brechas para desvios e uso indevido dos recursos.

Entretanto, mesmo após o Supremo ter imposto restrições às RP9, os parlamentares rapidamente adaptaram suas estratégias, recorrendo a outros tipos de emendas, como as RP8 (de comissões permanentes da Câmara e do Senado) e as RP6 (individuais de transferência especial). Essas últimas ficaram conhecidas como “emendas Pix”, pois permitem repasses diretos a estados e municípios, sem a necessidade de indicar onde ou como o dinheiro será gasto. E a pergunta que fica é: como rastrear e garantir a correta aplicação dessas verbas?

UM ACORDO EM MEIO AO CABO DE GUERRA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em declarações recentes, destacou a importância de um maior equilíbrio orçamentário. Para ele, é fundamental que as emendas parlamentares sejam coordenadas com o Executivo, que é o responsável por aplicar as verbas públicas de acordo com um planejamento nacional. “É muito dinheiro que não tem critério no orçamento planejado que a gente faz para o país”, afirmou Lula em entrevista à Rádio T, de Curitiba.

Já os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, defendem a prerrogativa do Congresso na definição conjunta do Orçamento, argumentando que a Constituição garante esse papel aos parlamentares. Segundo eles, concentrar esse poder no Executivo seria uma distorção da vontade dos constituintes de 1988.

Com a Constituição de 1988 e a redemocratização do país, o poder sobre o Orçamento voltou ao Congresso, após décadas de concentração nas mãos do Executivo, imposta pela Constituição de 1967 durante a ditadura militar. Desde então, novas regras têm sido incorporadas, como a impositividade das emendas parlamentares, inserida em 2015, que tornou obrigatória a execução de determinadas emendas.

NOVAS REGRAS À VISTA: TRANSPARÊNCIA E EFICIÊNCIA

O recente acordo firmado entre os Três Poderes, com o aval do Supremo Tribunal Federal, determina que Executivo e Legislativo apresentem, até o final de agosto, novas regras que assegurem a transparência, rastreabilidade e eficiência na execução das emendas parlamentares. Esta pode ser uma oportunidade de ouro para transformar a forma como o Orçamento é gerido no Brasil. Mas será que essa mudança será suficiente para garantir o uso responsável das verbas públicas?

Até o momento, não há sinais de que os parlamentares estejam dispostos a recuar no controle que exercem sobre uma ampla fatia do Orçamento, que atualmente corresponde a um quarto das despesas discricionárias, ou seja, de todos os gastos não obrigatórios à disposição do governo.

OS TIPOS DE EMENDAS PARLAMENTARES: UM OLHAR SOBRE A LOA 2024

Para entender melhor o cenário atual, é importante conhecer os principais tipos de emendas parlamentares e seus respectivos valores na Lei Orçamentária Anual de 2024:

  • Emendas Individuais (RP6): Desde 1988, a Constituição prevê as emendas individuais. A partir de 2015, elas se tornaram impositivas. Na LOA 2024, foram autorizados R$ 25,1 bilhões em emendas desse tipo, dos quais R$ 8,2 bilhões são de transferência especial, as chamadas emendas Pix. Até o momento, o governo já pagou R$ 14 bilhões das RP6, sendo R$ 4,5 bilhões em emendas Pix.
  • Emendas de Bancadas dos Estados e DF (RP2 e RP7): Tornaram-se impositivas em 2019 e, em 2024, correspondem a R$ 8,5 bilhões no orçamento. Até agora, R$ 1,7 bilhão foi efetivamente pago.
  • Emendas de Comissões Permanentes do Congresso (RP8): Não são impositivas e não estão previstas na Constituição. Em 2024, somam R$ 15,4 bilhões, dos quais R$ 7,4 bilhões já foram pagos.

O FUTURO DAS EMENDAS PARLAMENTARES: O QUE ESPERAR?

O acordo firmado entre os Três Poderes é um passo importante na busca por mais transparência e controle no uso das emendas parlamentares. Mas a implementação dessas novas regras ainda depende de um compromisso real entre Executivo e Legislativo. Será que esse consenso será mantido? Ou a disputa por poder e recursos continuará a prevalecer?

Enquanto essas perguntas não são respondidas, o que sabemos é que a necessidade de uma gestão eficiente e transparente das verbas públicas nunca foi tão urgente. Afinal, em um país com tantas demandas sociais, garantir que cada centavo do orçamento seja bem aplicado é fundamental para promover o desenvolvimento e a justiça social.


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Fonte
Agência Brasil

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