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Classe artística de Blumenau se manifesta sobre o cancelamento de última etapa de ações do Projeto Palhaçaria Para Todes

Classe artística de Blumenau se manifesta sobre o cancelamento de última etapa de ações do Projeto Palhaçaria Para Todes--FOTO-Sabrina-Marthendal
Foto: Sabrina Marthendal

O evento de palhaçaria estava acontecendo há três dias nos espaços da Secretaria Municipal de Cultura e Relações Institucionais de Blumenau e no domingo, último dia da última etapa do projeto, segundo a equipe, os participantes que ali estavam foram convidados a se retirar do local por ordens superiores

 No domingo, dia 8, a classe artística e o público presente na Secretaria Municipal de Cultura e Relações Institucionais de Blumenau se sentiram estarrecidos com o cancelamento e fechamento total da Secretaria, incluindo o Museu de Arte de Blumenau, onde produção e participantes da última etapa de ações do Projeto Palhaçaria Para Todes foram convidados a se retirar e, segundo o técnico presente no local, por ordens superiores. No mesmo dia, o prefeito Mário Hildebrandt se pronunciou em suas redes sociais (pessoais), afirmando o cancelamento do evento. As ações do projeto estavam acontecendo desde sexta-feira, dia 6, com várias ações, dentre elas uma oficina com a artista e mestra na área, Karla Concá (RJ), integrante do primeiro grupo de Palhaçaria composto por mulheres do Brasil; além de exposição temática de artes visuais (fotografia e ilustração), exibição de documentário, cine-debate, declamação de poesia de literatura surda, e intervenções artísticas com os palhaços como fechamento da oficina, e uma feirinha com artistas locais, todas acessíveis. O projeto, patrocinado pelo Fundo Municipal de Apoio à Cultura de Blumenau, contemplado no Prêmio Herbert Holetz, trouxe experiências diversas com o objetivo de conectar oficinantes e público, crianças e adultos, com e sem deficiência, ao universo lúdico da palhaçaria.

“Estamos desde domingo esperando a resposta, tanto do prefeito quanto da Secretaria de Cultura. Nunca vimos alguém ser convidado a se retirar da Casa da Cultura da cidade, que deveria ser um espaço diverso que garante o acesso à Cultura, no entanto se tornou um lugar alvo de intolerância e autoritarismo inconstitucional. O Prefeito jamais compareceu a nenhum projeto cultural realizado através da Lei de Incentivo por esta produtora, não se informou sobre o teor do projeto e em nenhum momento dialogou conosco para esclarecer quaisquer informações equivocadas que tenha recebido”, afirma a produtora executiva e proponente do Projeto Palhaçaria Para Todes, Tatiane Hardt. “É difícil tomar decisões assertivas sobre aquilo que não se conhece. Seria por motivação eleitoral? Nos sentimos profundamente envergonhados por receber uma Mestra com reconhecimento nacional e internacional na cidade, para presenciar um ato de censura a uma programação que sequer tem classificação restrita. Blumenau ganhou destaque nacional quando foram denunciadas células nazistas aqui existentes, esta atitude de censura só vem reiterar uma imagem negativa da cidade”, complementa Tatiane.

“A arte de fazer rir se viu proibida e isso diz muito sobre o tipo de relacionamento que esta gestão tem com o setor cultural que, cabe salientar, é a base do turismo. Ao indagar a razão desta ordem arbitrária que violou direitos de pessoas com e sem deficiência a acessar cultura, a resposta foi de que não se tinha conhecimento da motivação. A prefeitura restringiu o acesso a uma trabalhadora da cultura, que teve seu projeto aprovado com uma das melhores notas no Edital Herbert Holetz. A um espaço que é público e estava reservado desde 2023. A Secretaria de Cultura não está a serviço de nenhum segmento partidário, religioso ou de qualquer natureza excludente. Acessar cultura, é um direito cidadão de todos. Ficamos imaginando os turistas chegando ao espaço e vendo o Museu de Arte de Blumenau de portas trancadas, e nosso público convidado impedido de acessar o projeto”, acrescenta a proponente.

“Enquanto artista, produtor e público que participou de outras ações do projeto, reforço a importância dos debates e diálogos que foram realizados para a formação de artistas e de público para uma compreensão efetiva do que é a acessibilidade cultural no campo da cultura. Enquanto conselheiro e vice-presidente do CMPC a minha posição é de apoio aos nossos artistas e produtores, entendendo que ninguém, nem mesmo o prefeito da cidade, pode ordenar o cancelamento de um projeto cultural, ainda mais sem justificativa alguma. Acompanhamos todo o processo com apreensão, sabendo da nossa responsabilidade e tendo o cuidado no acompanhamento da apuração dos fatos junto à equipe do projeto e também no aguardo de um posicionamento da prefeitura de Blumenau”, afirma o professor e vice-presidente do Conselho Municipal de Cultura, José Inácio Sperber.

“A Palhaçaria é uma potente ferramenta em estratégias para soluções criativas, através do riso, no enfrentamento dos problemas da vida. A menor máscara do mundo é carregada de grande poder de transformação social. O projeto propõe uma abordagem multidisciplinar desta arte milenar cujo principal objetivo é simples, poderoso e vital para nossa sociedade: fazer rir”, explica Tatiane. “As pessoas confundem animadores de festa com palhaçaria, e um dos objetivos do projeto é justamente ampliar o conhecimento sobre esta arte milenar que exige muitos anos de estudo e dedicação. Um Palhaço surge onde as máscaras sociais caem, um palhaço é a versão mais autêntica daquele ser humano sob a máscara. E este estudo é feito através de exercícios conduzidos pelos mestres e mestras, que por sua vez herdaram esse conhecimento de quem veio antes, geração a geração”, acrescenta.

A produtora Tatiane Hardt explica que existe palhaçaria voltada para crianças e adolescentes, mas existe também a palhaçaria voltada somente para adultos. “Cada palhaço/a/e é único, e nosso projeto abriu espaço para o aprendizado deste nobre ofício para artistas da comunidade surda, profissionais da palhaçaria hospitalar e atuantes em comunidades periféricas em diversas cidades de Santa Catarina. Este é um projeto em versão piloto que servirá como ponto de partida para novos projetos que formem profissionais, gerando emprego e renda”, diz.

“A oficina tem por objetivo promover uma investigação prática e teórica da lógica pessoal do riso. Tornando conscientes estados pessoais espontâneos e autênticos que levam ao encontro do ser risível de cada participante. Ao rirmos de nós, nos identificamos como sujeito que erra, e errar é inerente à condição humana. Ao identificar sua sombra, a convide para uma boa gargalhada junto de você. É um alívio poder se amar do jeito que se é! Sua graça está na sua desgraça”, diz a ministrante da oficina, Karla Conká. “A palhaçaria é ação presente, na agilidade do pensamento criativo pode estar a solução de se resolver problemas. Tudo está em mim e a partir de mim no agora, futuro não existe. O desfrute é o caminhar”, acrescenta Karla. “Expandir o lúdico, o poético, o criativo, a concentração, a imaginação. Trabalhar a percepção, o olho aberto, a escuta, a pausa, a respiração, o tempo cômico, a presença em cena, ou simplesmente tomar corajosamente toda essa subjetividade risível e aplicar na vida”, conclui a mestra em palhaçaria.

No mês de julho, o projeto levou ações para a Associação Blumenauense de Amigos dos Deficiente Auditivos (ABADA), e, no dia 25 de agosto, as ações estavam presentes no Evento COLMEIA; que ocorre no Teatro Carlos Gomes; com exibição do Documentário “Pagliacci”, acessível em LIBRAS gravadas; Roda de Conversa “Acessibilidade Cultural, O Que eu Tenho a ver com Isso?” com a presença de Inácio Sperber (Vice-Presidente do CMPC de Blumenau), Profª Fabiana Schmitt Corrêa (UFSC Campus Blumenau) e Prof. Renata Orlandi (UFSC Campus Blumenau), com Mediação de Tita Tinta (Tatiane Hardt) e acessibilidade em LIBRAS; intervenção “Marga & Margarete em Utilidade Pública”, com as Palhaças Marga e Margarete; e declamação de poesia em LIBRAS (Literatura Surda), com Catharine Moreira.

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