Mulheres avançam, mas ainda são minoria na música
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De acordo com o relatório mais recente da Annenberg Inclusion Initiative da USC, publicado em janeiro, a presença feminina na indústria musical manteve os ganhos anteriores, com progressos sólidos em 2024. No ano passado, as mulheres representaram 37,7% dos artistas na Billboard Hot 100 Year-End Chart, um aumento considerável em relação a 2023 (35%) e um salto significativo desde 2012 (22,7%).
No Grammy Awards de 2025, as mulheres se destacaram em diversas categorias, conquistando 12 das 16 indicações principais. Beyoncé, Taylor Swift e Billie Eilish dominaram as nomeações, refletindo uma forte presença feminina na premiação. Além disso, a rapper Doechii se tornou a terceira mulher da história a conquistar o prêmio de Melhor Álbum de Rap, um marco importante para as mulheres na música.
Embora a participação feminina tenha avançado, a presença das mulheres em áreas técnicas, como produção e engenharia de som, ainda é limitada. Um estudo da USC Annenberg, em parceria com o Spotify, revelou que apenas 6,5% dos produtores musicais globalmente são mulheres, e menos de 3% estiveram envolvidas nas 800 músicas mais relevantes da última década. Apesar da democratização da tecnologia ter ampliado o acesso a estúdios caseiros, muitas produtoras continuam enfrentando desafios para serem reconhecidas em um setor tradicionalmente dominado por homens.
O número de mulheres em cargos de gestão também tem crescido significativamente na indústria musical. No Music Managers’ Forum (MMF), por exemplo, em 1992, ano de sua fundação, apenas duas mulheres estavam entre os 300 membros. Hoje, elas representam 38% dos 1.500 associados, incluindo Annabella Coldrick, atual CEO do fórum.
A brasileira Nicole Abrantes, de 22 anos, membro do MMF e da Recording Academy, nos Estados Unidos, integra a nova geração de mulheres no setor de gestão de carreira no cenário internacional. Formada em Arts & Entertainment Management pela Pace University, com especialização em Artist Management pela Berklee College of Music, Nicole faz parte da equipe da Inkwell Entertainment, em Nova York. Desde 2023, ela gerencia a carreira de dois artistas: a norte-americana Amari Noelle e o nigeriano Teemanay. Ela também é responsável pela agenda do pianista e compositor cubano Dayramir Gonzales.
Nicole afirma que as mulheres sempre desempenharam papeis essenciais na indústria, mas agora estão mais visíveis. “Talvez não recebessem o reconhecimento que mereciam antes”, disse. Segundo a brasileira, a representatividade feminina vem avançando em todas as esferas da indústria. “Ainda há resistência em colocar mulheres em posições estratégicas, como o gerenciamento de carreira, mas quanto mais mulheres chegam a posições de gestão, mais oportunidades surgem para outras mulheres”, afirma.
Mulheres na indústria musical brasileira
No Brasil, a presença feminina na indústria musical tem se fortalecido nos últimos anos. Segundo o relatório Mulheres na Música, divulgado pelo Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) em março de 2024, o número de mulheres beneficiadas com direitos autorais em 2023 aumentou em comparação a 2022. Em algumas categorias, a participação feminina até dobrou em relação aos anos anteriores, evidenciando o crescimento e a relevância das mulheres na música nacional.
Ainda assim, a desigualdade de gênero persiste. Dados da União Brasileira de Compositores (UBC) indicam que, em 2023, apenas 13 dos 100 artistas com maior rendimento eram mulheres, representando cerca de 10% do total.
Além disso, uma pesquisa realizada pelo DATA SIM em 2019 apontou que 49% das mulheres na indústria musical mencionaram o assédio sexual como a principal dificuldade enfrentada, seguido pelo assédio moral, citado por 47% das participantes.