Estudos mostram que combustíveis fósseis agravam eventos climáticos extremos no Brasil

Vai continuar fervendo para bem além do Carnaval, é o que apontam as previsões dessa quinta onda de calor que começou na última sexta-feira (28) em todo o país, com temperaturas bem acima da média para o verão. Em pleno mês de fevereiro, mais de 127 milhões de brasileiros enfrentam temperaturas extremas, que se tornou pelo menos cinco vezes mais provável devido às mudanças climáticas, segundo análise do Climate Central. O impacto das mudanças climáticas, impulsionadas pela queima de combustíveis fósseis, se reflete não só nas ondas de calor, mas também em secas e enchentes cada vez mais frequentes e intensas – segundo uma série de estudos de atribuição citados na análise do ZeroCarbon Analytics.
Porto Alegre (RS) foi a capital mais quente, segundo o Climatempo, com 38,1°C e continuará sendo uma das regiões mais afetadas ao lado de São Paulo, Brasília e Curitiba. As quatro ondas de calor anteriores tinham dedo das mudanças climáticas. Seis estudos de atribuição foram realizados sobre secas recentes (quatro estudos) e enchentes (dois estudos) que atingiram o Brasil nos últimos dois anos. As enchentes sem precedentes ocorridas entre abril e maio do ano passado no Rio Grande do Sul afetaram mais de 90% do estado, deslocaram mais de 600 mil pessoas e causaram 183 mortes. Um estudo do World Weather Attribution (WWA) analisou períodos de quatro e dez dias durante as chuvas intensas, concluindo que estas foram duas vezes mais prováveis e entre 6% e 9% mais intensas devido à queima de combustíveis fósseis.
O Brasil também enfrentou secas severas na bacia do rio Amazonas em 2023 e 2024, quando rios atingiram os níveis mais baixos registrados em 120 anos. O WWA descobriu que a seca sofrida pela agricultura da região amazônica entre junho e novembro de 2023 foi 30 vezes mais provável devido às mudanças climáticas. A cientista do clima Fredi Otto, cofundadora do WWA, mostrou preocupação com o país ao afirmar que “se continuarmos queimando petróleo, gás e carvão, muito em breve atingiremos 2°C de aquecimento e veremos secas semelhantes na Amazônia aproximadamente uma vez a cada 13 anos”.
RESPONSABILIDADE DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA BRASILEIRA
Depois das mudanças no uso da terra, a agricultura tornou-se uma das maiores fontes de emissões no Brasil, seguida pelo setor de energia, sendo os transportes a principal fonte de emissões de gases de efeito estufa. A Petrobras é responsável por mais de 90% da produção de petróleo e gás no Brasil. Entre 2015 e 2023, a empresa reportou uma redução de 24% em suas emissões operacionais, mas, considerando tanto a produção quanto a queima dos combustíveis fósseis vendidos, a redução foi de apenas 2,7% entre 2015 e 2022, de acordo com o banco de dados Carbon Majors. Esse número reflete, em parte, a queda na demanda durante a pandemia de COVID-19, mas a produção de petróleo continuou a crescer em 2023 e 2024.
A maior parte da produção de petróleo no Brasil está concentrada no mar, nas bacias de Campos e Santos, próximas a grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Desde as descobertas nos anos 1980, a produção nessas áreas tem se expandido, e as empresas de petróleo e gás continuam a explorar novas regiões. A Petrobras tem planos de expandir a produção, incluindo a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas e no litoral do Rio Grande do Sul, regiões impactadas por enchentes devastadoras em 2024.
A Petrobras, uma das 25 maiores emissoras globais de gases de efeito estufa – as Carbon Majors, identificadas pelo think tank Climate Analytics – tem um papel central nos danos causados pelas emissões de combustíveis fósseis. Com base em uma suposição conservadora de que os produtores são responsáveis por um terço dos danos causados pelos combustíveis fósseis e assumindo um custo social do carbono de US$ 185 por tonelada, os danos das emissões realizadas entre 2018 e 2023 por todas essas empresas são estimados em US$ 20 trilhões, contra um faturamento conjunto de US$ 30 trilhões. Desses valores, a parte que cabe à Petrobras são US$ 500 bilhões em danos em todo o mundo, enquanto seus ganhos financeiros foram de US$ 700 bilhões no período.
De acordo com o relatório Production Gap de 2023, elaborado pela ONU, o governo brasileiro planeja aumentar em 63% a produção de petróleo e em 124% a de gás até 2032. O governo continua a incentivar a exploração e a produção por meio de US$ 8,6 bilhões em renúncias fiscais e transferências diretas do orçamento. No total, os subsídios federais para petróleo, gás e carvão atingiram US$ 14,56 bilhões em 2022, enquanto os combustíveis fósseis totalizaram US$ 72,23 bilhões em subsídios de 2018 a 2022, as fontes renováveis de energia receberam US$ 13,39 bilhões.
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