Pesquisa revela hábitos culturais dos brasileiros e aponta desigualdades no acesso

A pesquisa Cultura nas Capitais, realizada pela JLeiva Cultura & Esporte, com patrocínio do Itaú e do Instituto Cultural Vale, e apoiada pela Lei Rouanet, trouxe à tona dados reveladores sobre os hábitos culturais da população brasileira. O levantamento, que contou com a parceria do Ministério da Cultura (MinC), analisou o consumo cultural nas 26 capitais estaduais e no Distrito Federal, entrevistando 19,5 mil pessoas com mais de 16 anos. Os resultados, divulgados recentemente, não só apontaram as preferências mais populares entre os brasileiros, como também revelaram disparidades regionais, raciais, de gênero e até mesmo relacionadas à presença de filhos nas famílias.
Conteúdos
- O CONSUMO CULTURAL NO BRASIL: QUEM ESTÁ CONSUMINDO O QUÊ?
- UM PANORAMA REGIONAL: DIFERENÇAS NO CONSUMO CULTURAL ENTRE AS CAPITAIS
- A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA PARA POLÍTICAS PÚBLICAS
- A DIVERSIDADE RACIAL E DE GÊNERO NO ACESSO À CULTURA
- IMPACTO E AVALIAÇÃO DO MINC
- O CAMINHO À FRENTE: O QUE O ESTUDO NOS ENSINA SOBRE O FUTURO DA CULTURA NO BRASIL?
O CONSUMO CULTURAL NO BRASIL: QUEM ESTÁ CONSUMINDO O QUÊ?
Os brasileiros têm se mostrado ávidos por algumas formas de expressão cultural, enquanto outras ainda enfrentam certa resistência. Entre os hábitos mais populares, destaca-se a leitura de livros, com 62% dos entrevistados afirmando ter lido pelo menos uma obra nos últimos 12 meses. Os jogos eletrônicos também são extremamente populares, com 51% da população engajada, seguidos de perto pelo cinema, com 48% de adesão.
Esses dados revelam um país onde a literatura, o entretenimento digital e as produções cinematográficas têm encontrado um público fiel. Mas e as atividades culturais mais tradicionais, como concertos, saraus e feiras de livros? Essas ainda estão longe de figurar entre as preferências da maioria. Por exemplo, 71% dos brasileiros nunca participaram de um concerto, 66% nunca frequentaram um sarau e 44% nunca estiveram em uma feira de livros. Por que será que essas manifestações culturais, tão presentes em outras épocas, ainda não conquistaram o grande público?
UM PANORAMA REGIONAL: DIFERENÇAS NO CONSUMO CULTURAL ENTRE AS CAPITAIS
Como era de se esperar, o consumo cultural no Brasil não é homogêneo. A pesquisa revelou disparidades significativas entre as regiões. No Sul, por exemplo, cidades como Porto Alegre e Florianópolis destacam-se no consumo de livros, museus e shows de música. Porto Alegre, que lidera a leitura com 72%, também se destaca na adesão às feiras do livro, enquanto Curitiba brilha no setor de jogos eletrônicos, com 57% de participação.
Por outro lado, o Rio de Janeiro, tradicional centro cultural do Brasil, figura no topo das preferências no que diz respeito ao cinema (57%) e ao teatro (32%). Manaus, por sua vez, destaca-se na participação em atividades de dança, com 32% da população engajada.
Esses dados nos levam a refletir: será que as diferenças regionais no consumo cultural estão relacionadas à oferta de atividades culturais nas diferentes cidades? Ou será que as preferências estão mais ligadas a questões históricas e culturais locais?
A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA PARA POLÍTICAS PÚBLICAS
O impacto do estudo vai muito além dos números. Para a subsecretária de Gestão Estratégica do MinC, Letícia Schwarz, os resultados do levantamento são essenciais para o desenvolvimento de políticas públicas culturais mais inclusivas e assertivas.
“Essa pesquisa é fundamental para os gestores públicos de cultura, tanto federais quanto locais, desenharem suas políticas e aprofundarem suas pesquisas. Ela nos dá uma visão clara de como o direito à cultura está sendo acessado pela população, e como podemos avançar na promoção da diversidade cultural e na inclusão de todos os brasileiros”, afirmou Letícia Schwarz.
A pesquisa também revela que, no pós-pandemia, a cultura vem gradualmente retomando o papel de agregadora social. “Estamos recuperando pouco a pouco nossa capacidade de existir no coletivo que a cultura significa”, afirmou a subsecretária. E, para ela, esse estudo é um norte para que as políticas culturais se alinhem com as necessidades reais da população.
A DIVERSIDADE RACIAL E DE GÊNERO NO ACESSO À CULTURA
Outro ponto crucial da pesquisa é a análise das diferenças raciais e de gênero no consumo de atividades culturais. O estudo mostrou que, enquanto as pessoas brancas lideram o acesso a sete das 14 atividades culturais analisadas, as pessoas pretas demonstram maior interesse em manifestações culturais como shows, festas populares, museus, teatro e dança.
Mais interessante ainda é a observação sobre a prática de atividades culturais: enquanto as pessoas pretas são mais ativas na dança e capoeira, o público indígena tem uma maior continuidade na prática cultural, mantendo uma relação constante com atividades culturais ao longo do tempo.
Mas, e as questões de gênero? A pesquisa também revelou desigualdades significativas entre homens e mulheres. As mulheres se destacam na leitura, com 65% delas afirmando ter lido ao menos um livro no último ano, contra 59% dos homens. No entanto, no universo dos jogos eletrônicos, os homens lideram, com 54% afirmando jogar, contra 49% das mulheres. Além disso, em termos de visitação a locais históricos, os homens também se mostram mais presentes (47% contra 44% das mulheres).
E quando falamos em acesso cultural por faixa etária? A pesquisa aponta que, enquanto jovens de até 34 anos dominam a participação em atividades culturais, mulheres entre 25 e 44 anos enfrentam uma queda mais acentuada na frequência a eventos culturais, especialmente após a chegada dos filhos.
A maternidade, aliás, é um fator que impacta diretamente na participação feminina em eventos culturais. A pesquisa mostrou que a presença de filhos pequenos reduz a frequência de mulheres em diversas atividades culturais, como visitas a locais históricos. No entanto, curiosamente, o circo é uma atividade cultural que tem registrado maior participação de mulheres com filhos, se comparado àquelas sem filhos.
IMPACTO E AVALIAÇÃO DO MINC
Na última terça-feira, 25, representantes do Sistema MinC se reuniram para analisar os resultados do estudo e traçar um panorama detalhado do consumo cultural no país. Para o secretário-executivo do MinC, Márcio Tavares, os dados fornecem informações valiosas para a formulação de políticas públicas eficientes.
“A boa política pública não se baseia no voluntarismo, mas em dados concretos que orientam suas ações e decisões. A garantia de continuidade dessas políticas é essencial, e estamos agora trabalhando para consolidá-las de forma estruturada e eficaz”, disse Tavares.
Com base nos resultados da pesquisa, o MinC está empenhado em revisar e melhorar as políticas culturais, a fim de garantir que todas as camadas da população possam ter acesso e se beneficiar da rica diversidade cultural do Brasil.
O CAMINHO À FRENTE: O QUE O ESTUDO NOS ENSINA SOBRE O FUTURO DA CULTURA NO BRASIL?
A pesquisa Cultura nas Capitais não é apenas uma fotografia do presente, mas uma chave para o futuro. Ela nos desafia a repensar a distribuição das atividades culturais no Brasil, destacando as desigualdades regionais, raciais e de gênero que ainda existem.
E agora, o que será feito com esses dados? Como podemos garantir que todos os brasileiros, independentemente de sua origem, gênero ou localização, tenham acesso à riqueza cultural que o país oferece?
Certamente, os próximos passos exigem um esforço conjunto entre governos, empresas e a sociedade civil. A cultura é um direito de todos, e a pesquisa aponta um caminho para políticas públicas mais inclusivas, que permitam a todos os brasileiros vivenciar a riqueza e a diversidade cultural do país.
Quer saber mais sobre o consumo cultural no Brasil? Acesse o estudo completo aqui.
Fonte: Ministério da Cultura
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