Presença feminina no serviço público federal alcança 45% em 2025

Em 2025, a participação feminina na Administração Pública Federal atingiu 45,6%, um avanço significativo em relação aos 44,8% registrados em 2022. O aumento, embora expressivo, reflete um processo gradual e repleto de desafios. A comemoração, especialmente no Dia Internacional da Mulher, aponta para a crescente representatividade das mulheres no serviço público, mas também evidencia questões urgentes que ainda precisam ser resolvidas.
Conteúdos
- A EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO FEMININA NO SETOR PÚBLICO
- A DESIGUALDADE NA HIERARQUIA: ONDE AS MULHERES ESTÃO REALMENTE?
- POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AUMENTAR A REPRESENTATIVIDADE FEMININA
- O CUIDADO COMO POLÍTICA PÚBLICA: UM PASSO NECESSÁRIO PARA A IGUALDADE
- REPRESENTATIVIDADE E INCLUSÃO: POR UM SERVIÇO PÚBLICO MAIS DIVERSO
- UM CAMINHO LENTO, MAS PROMISSOR
A EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO FEMININA NO SETOR PÚBLICO
A presença das mulheres na Administração Pública Federal tem mostrado um crescimento constante. Em 2025, cerca de 45,6% dos servidores ativos são mulheres, uma porcentagem que segue em ascensão desde 2022, quando esse número era de 44,8%, de acordo com dados do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI).
Esse dado é revelador, mas também nos leva a refletir: o que está por trás desses números? A antropóloga Ana Julieta Teodoro Cleaver, servidora pública federal e membro do Coletivo de Mulheres Negras Servidoras e Empregadas Públicas do Governo Federal, destaca que, embora tenha ocorrido um aumento paulatino na participação das mulheres, há uma predominância de mulheres brancas que já estão mais inseridas nesses espaços. Esse avanço tem sido mais visível em setores de execução das políticas públicas, mas menos significativo nas posições de tomada de decisão.
“A presença feminina tem sido cada vez mais representativa”, afirmou o governo federal em comunicado no dia 8 de março, mas Ana Julieta lembra que as desigualdades ainda são evidentes: mulheres negras, indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais continuam sendo marginalizadas nos altos escalões de poder.
A DESIGUALDADE NA HIERARQUIA: ONDE AS MULHERES ESTÃO REALMENTE?
Ao analisarmos as hierarquias do serviço público, o cenário revela uma diferença gritante entre a quantidade de mulheres em cargos de execução e aquelas em funções de tomada de decisão. As mulheres ocupam principalmente cargos de execução, como assistentes sociais, enfermeiras e técnicas de enfermagem — funções que, embora fundamentais para a sociedade, têm um baixo reconhecimento social e salarial.
“A participação feminina é maior nos cargos de execução das políticas, mas na medida em que subimos na hierarquia, o número de mulheres vai se reduzindo. E isso não acontece apenas no setor público, mas em todas as áreas de representação econômica, política e social no Brasil”, observa Ana Julieta.
A situação não é muito diferente quando se trata de cargos de liderança, como os de direção e assessoramento. O aumento foi expressivo, passando de 34,9% em 2022 para 39,2% em 2025 em cargos de nível 13 a 17, como diretoras, coordenadoras-gerais e secretárias. Entretanto, mesmo com esse avanço, as mulheres continuam sub-representadas em relação aos homens.
Em termos gerais, a participação feminina em cargos comissionados de direção e assessoramento subiu de 40% em 2022 para 42% em 2025, mas isso ainda está longe de uma representação igualitária. Um número que, por outro lado, reflete um esforço real do governo: em um total de 1.270 cargos de direção criados pela atual gestão, 965 (76%) são ocupados por mulheres.
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AUMENTAR A REPRESENTATIVIDADE FEMININA

O governo federal tem desenvolvido diversas políticas públicas para aumentar a presença das mulheres na Administração Pública e melhorar suas condições de trabalho. Entre elas, destacam-se a Lei de Igualdade Salarial, as cotas para mulheres em situação de violência doméstica em contratações públicas e o Programa Federal de Prevenção e Enfrentamento do Assédio e Discriminação no serviço público federal.
A professora Flavia Biroli, especialista em Ciência Política pela Universidade de Brasília, enfatiza a importância de ações para criar relações de trabalho mais igualitárias. Para ela, o processo de igualdade não se limita a aumentar a presença feminina nos cargos, mas deve também integrar políticas públicas mais amplas, como o Plano Nacional de Cuidado.
“A divisão sexual do trabalho, que ainda coloca a responsabilidade do cuidado principalmente nas mulheres, impacta diretamente a igualdade de gênero no mercado de trabalho. A conciliação entre trabalho remunerado e o trabalho de cuidado não remunerado precisa ser uma prioridade para alcançarmos a verdadeira igualdade nos espaços de trabalho”, pontua Flavia.
O CUIDADO COMO POLÍTICA PÚBLICA: UM PASSO NECESSÁRIO PARA A IGUALDADE
A questão do cuidado é central para entender as desigualdades de gênero no mercado de trabalho. A professora Biroli sugere que uma das soluções seria a oferta de creches tanto no setor privado quanto no público, com horários compatíveis com o expediente de trabalho, garantindo que as mulheres tenham a liberdade de conciliar suas responsabilidades familiares com sua vida profissional.
Para Lais Barros, geógrafa e pedagoga, membro do Coletivo de Mulheres Negras Servidoras e Empregadas Públicas do Governo Federal, as políticas públicas que vêm sendo implementadas são uma resposta direta à luta histórica das mulheres, especialmente do movimento feminista. Embora ainda haja muito a ser feito, Lais acredita que as mudanças têm sido visíveis e merecem reconhecimento.
“O longo caminho que ainda temos pela frente não pode apagar as vitórias já conquistadas. As políticas públicas implementadas são a resposta às lutas que vêm de muito tempo atrás”, afirma Lais, destacando que a mudança cultural e institucional é um processo contínuo que demanda esforços coletivos e individuais.
REPRESENTATIVIDADE E INCLUSÃO: POR UM SERVIÇO PÚBLICO MAIS DIVERSO
Uma questão fundamental que ainda precisa ser abordada é a representatividade da população brasileira no serviço público. Lais Barros afirma que a implementação de cotas nos concursos públicos federais é essencial para garantir que o serviço público reflita a diversidade do país. Sem uma representatividade real, o serviço público perde a capacidade de compreender e atender às necessidades de todas as camadas da sociedade.
“Ao garantir uma maior representatividade, estamos criando um serviço público que não só executa, mas que também decide. Mulheres de diferentes origens, histórias e trajetórias precisam ocupar posições de liderança para que as políticas públicas atendam verdadeiramente às necessidades de todos”, afirma Lais.
Além disso, Ana Julieta reforça que é essencial que as políticas públicas reconheçam e valorizem as profissões desempenhadas principalmente por mulheres negras, como assistentes sociais e profissionais da saúde, que são fundamentais para a sociedade, mas frequentemente são negligenciadas em termos de reconhecimento social e remuneração.
UM CAMINHO LENTO, MAS PROMISSOR
Embora os avanços sejam inegáveis, o caminho para a igualdade total entre homens e mulheres na Administração Pública Federal ainda é longo. A luta pela representatividade, pela valorização dos cargos de execução e pela implementação efetiva de políticas públicas de igualdade continua. Contudo, como destaca Lais Barros, cada passo dado deve ser celebrado como uma vitória na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Fonte: Agência Brasil
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