Bolsonaro nega golpe e afirma esperar ajuda internacional para se defender

Milhares de apoiadores vestindo verde e amarelo tomaram a Avenida Paulista neste domingo (6), em São Paulo, para um ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. O evento, carregado de simbolismo e discursos inflamados, teve como foco o pedido de anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, em Brasília. Mas a pauta central foi além: Bolsonaro voltou a negar qualquer tentativa de golpe e disse nutrir esperanças de apoio internacional diante dos processos que enfrenta.
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UM PALCO, UM EX-PRESIDENTE E UMA APOSTA NA ANISTIA
O relógio marcava por volta das 14h quando a multidão começou a se concentrar na principal avenida da capital paulista. O objetivo? Apoiar o projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados e que propõe anistiar os condenados pelos atos de vandalismo e tentativa de golpe registrados em Brasília, no início do ano passado.
No palco, Bolsonaro fez um discurso repleto de insinuações e críticas ao que chama de perseguição política. Entre os nomes mencionados, estava o de Débora Rodrigues Santos, a cabeleireira presa por participar dos ataques e por ter pichado com batom a estátua “A Justiça”, localizada em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF).
“Se ela usou um batom, qual o problema nisso?”, indagou Bolsonaro diante de apoiadores que, em solidariedade à ré, brandiam batons em mãos. Débora já está em prisão domiciliar, mas continua sendo investigada por obstrução de justiça e destruição de provas, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR).
“SE EU ESTIVESSE NO BRASIL, ESTARIA PRESO OU MORTO”
O tom dramático marcou outro trecho da fala do ex-presidente, ao relembrar sua partida do país em 30 de dezembro de 2022 — dois dias antes da invasão aos Três Poderes. “Algo me avisou. Se eu estivesse no Brasil, eu teria sido preso e estaria apodrecendo até hoje ou até assassinado”, declarou.
Você acredita em presságios? Bolsonaro parece acreditar. Ele argumenta que sua ausência foi uma espécie de livramento — uma decisão que, agora, poderia até ser interpretada como uma tentativa de autopreservação diante do que estava por vir.
“ESPERO QUE VENHA ALGO DE FORA”
Ao comentar a ausência do filho Eduardo Bolsonaro, que se licenciou da Câmara e se mudou para os Estados Unidos alegando perseguição, o ex-presidente deixou escapar mais do que uma simples menção familiar. “Tenho esperança que de fora venha alguma coisa para cá”, disse, sugerindo articulações internacionais feitas por Eduardo com “gente importante do mundo todo”.
Seria uma aposta em pressões diplomáticas? Intervenção externa? Bolsonaro não explicou. Mas deixou no ar uma expectativa de salvação vinda de fora do país — um elemento que reforça a estratégia de internacionalização do discurso.
CENÁRIO POLÍTICO: APOIO DE PESO E INELEGIBILIDADE
O evento também contou com a presença de diversos governadores aliados: Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ratinho Junior (PR), Wilson Lima (AM), Ronaldo Caiado (GO), Mauro Mendes (MT) e Jorginho Mello (SC), além de parlamentares e autoridades como o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
A imagem é clara: mesmo inelegível até 2030 por decisão da Justiça Eleitoral, Bolsonaro ainda consegue reunir forças políticas consideráveis. Sua inelegibilidade foi decretada após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entender que ele utilizou um encontro com embaixadores estrangeiros, em julho de 2022, para desacreditar o sistema eleitoral — sem apresentar provas.
O JULGAMENTO DE UM EX-PRESIDENTE
Atualmente réu por tentativa de golpe, Bolsonaro enfrenta um processo criminal no Supremo Tribunal Federal (STF), junto com outros sete acusados. A Primeira Turma da Corte acolheu por unanimidade a denúncia da PGR, que aponta que o ex-presidente esteve diretamente envolvido em articulações para desestabilizar o resultado das eleições.
Ainda que o julgamento esteja apenas começando, o simbolismo de ver um ex-chefe de Estado responder criminalmente por tentar subverter a ordem democrática é, por si só, um marco.
O QUE ESTÁ POR VIR?
O Brasil assiste, dividido, a um dos capítulos mais delicados da sua jovem democracia. Enquanto a Justiça avança nos processos, manifestações como a deste domingo mostram que Bolsonaro ainda mantém significativa base de apoio — e um discurso que mistura religiosidade, teoria da conspiração, vitimismo e promessas de redenção.
Mas fica a pergunta: o que, de fato, virá de fora? E o que o futuro reserva para o ex-presidente, agora réu?
Seja qual for a resposta, uma coisa é certa: o cenário político nacional seguirá em ebulição.