Educação

Restrição do uso de celulares nas escolas tem apoio de educadores

Restrição do uso de celulares nas escolas tem apoio de educadores
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

O uso excessivo de telas e, em particular, de celulares, tornou-se um dos maiores desafios enfrentados por educadores e pais nas últimas décadas. A discussão sobre a restrição do uso de celulares nas escolas – públicas e privadas – ganhou força recentemente com a proposta do Ministério da Educação (MEC) de adotar medidas para limitar esse acesso no ambiente escolar. Mas será que essa é a solução? E, mais importante, qual é o verdadeiro impacto desses dispositivos no aprendizado e na saúde mental das crianças e adolescentes?

O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS SOBRE  A RESTRIÇÃO DO USO DE CELULARES NAS ESCOLAS?

Em entrevista recente ao jornal Folha de S.Paulo, o ministro da Educação, Camilo Santana, defendeu a ideia de restringir o uso de celulares nas escolas. Segundo ele, pesquisas indicam que o uso desenfreado dessas tecnologias compromete tanto o desempenho escolar quanto a saúde mental, afetando alunos e professores. Para muitos profissionais da educação, como Marina Rampazzo, orientadora educacional da Secretaria de Educação do Distrito Federal, essa preocupação é legítima e amplamente discutida entre educadores.

“Nas conversas que temos com especialistas de diversas áreas, vemos vários prejuízos causados pelo excesso do uso de telas, especialmente em crianças e adolescentes”, afirma Rampazzo, que também é pedagoga e psicóloga. E essa não é uma discussão nova – o impacto das telas no desenvolvimento cognitivo e emocional já é um tema recorrente há anos. Porém, nos últimos tempos, essa realidade foi amplificada por um fator inesperado: a pandemia.

A PANDEMIA E O PODER DAS TELAS: COMO O ISOLAMENTO IMPACTOU O USO DE TECNOLOGIA

Você também notou como o uso de celulares aumentou exponencialmente durante a pandemia? Esse fenômeno não foi acidental. Com as escolas fechadas e as famílias trancadas em casa, muitos pais e mães recorreram às telas para manter os filhos entretidos.

“A pandemia deu um poder a mais para a tela. O problema já existia, mas havia um controle maior sobre tempo, espaço e conteúdo”, diz Rampazzo. “Na medida em que entramos em uma pandemia e todos ficaram trancados dentro de casa, as famílias se viram sem outras ferramentas para manter os jovens ocupados”.

E como reverter esse quadro? É uma pergunta complexa. Rampazzo acredita que a escola terá um papel decisivo nesse processo. Ela argumenta que a educação integral, que vai além da transmissão de conteúdos, é essencial para desenvolver habilidades cognitivas, emocionais e sociais. Mas a escola sozinha será capaz de enfrentar esse desafio?

O PAPEL DA ESCOLA NA SOCIALIZAÇÃO: COMO TIRAR OS ALUNOS DAS TELAS

Uma das maiores dificuldades para lidar com o vício em celulares está no fato de que, fora da escola, os alunos passam grande parte de seu tempo imersos nas telas. Segundo Rampazzo, a socialização dentro do ambiente escolar pode ser uma solução eficaz para minimizar esse problema.

“É na escola que ele passa boa parte do seu tempo. Se fora da escola eles ficam o tempo todo no celular, dentro da escola é a oportunidade para eles se relacionarem com outras pessoas, com livros de verdade e com atividades diversas de cultura, lazer e esporte”, explica a educadora. Você concorda? Acredita que a escola, com suas atividades sociais, esportivas e culturais, pode ajudar a reduzir o vício digital?

Margareth Nogueira, orientadora educacional do Colégio Arvense, compartilha dessa visão e acrescenta que o uso excessivo de telas tem prejudicado as interações sociais, ampliando comportamentos antissociais e até mesmo o bullying. Para ela, os estudantes, especialmente entre os 10 e os 12 anos, precisam desenvolver o diálogo em níveis complexos, como pensar, refletir e argumentar.

“Se ele não consegue entrar nesse nível, com argumentos, contra-argumentos e consensos, não há diálogo. O que vemos é que ouvir o outro tem sido, para eles, algo cada vez mais complexo”, destaca Nogueira.

O VÍCIO EM TECNOLOGIA: SINTOMAS E CONSEQUÊNCIAS

E você já se perguntou como o vício em celulares afeta diretamente o comportamento das crianças e adolescentes? Além de impactar as interações sociais, o uso descontrolado de celulares tem gerado sintomas que lembram crises de abstinência. A pedagoga Marina Rampazzo relata que muitos alunos têm manifestado agressividade, impaciência e intolerância quando afastados de seus dispositivos. “Muitos têm manifestado verdadeiras crises de abstinência quando afastados de seus celulares”, conta.

Esse comportamento não é isolado. Margareth Nogueira também observa uma mudança comportamental em seus alunos, especialmente os mais novos. A agitação, a impaciência e a competitividade exacerbada são reflexos claros do impacto tecnológico nas rotinas desses jovens.

E os impactos não param por aí. A alimentação, a rotina de sono e até mesmo o funcionamento cerebral estão sendo diretamente afetados, prejudicando não só o desenvolvimento acadêmico, mas a saúde como um todo. “A verdade é que eles não têm maturidade nem resposta cerebral para usar o celular de forma sistemática”, conclui Nogueira.

MEDIDAS PARA LIMITAR O USO DE CELULARES: UM CAMINHO POSSÍVEL?

Diante desse cenário, a proposta do Ministério da Educação de restringir o uso de celulares nas escolas parece cada vez mais viável. Mas como seria a implementação dessa medida? Quais são os desafios? Para Margareth Nogueira, o controle do uso de dispositivos móveis é um dos grandes desafios da educação moderna.

Segundo ela, se essas medidas forem aprovadas, é importante que as escolas garantam acesso controlado a ferramentas digitais por meio de computadores, e não pelos celulares dos estudantes. Isso permitiria o uso educativo da tecnologia, sem os riscos associados à distração e ao uso descontrolado dos smartphones.

A IMPORTÂNCIA DO EQUILÍBRIO: COMO A FAMÍLIA PODE AJUDAR?

E em casa, como os pais podem contribuir? Essa é uma questão que muitas famílias têm se perguntado. Para Rampazzo, além da escola, o apoio familiar é crucial. Ela sugere que os pais proporcionem outros estímulos que não dependam de telas, como arte, cultura, esporte e lazer. Esses são elementos fundamentais para a socialização e o desenvolvimento saudável dos jovens.

Mas, com o ritmo frenético da vida moderna, será que é fácil implementar essas atividades alternativas? Fica o desafio para as famílias e educadores: encontrar o equilíbrio entre o uso consciente da tecnologia e a promoção de atividades que estimulem a interação social e o desenvolvimento integral.

UMA CONVERSA NECESSÁRIA: O FUTURO DA EDUCAÇÃO

A discussão sobre a restrição do uso de celulares nas escolas está apenas começando. Enquanto aguardamos as medidas concretas que serão apresentadas pelo Ministério da Educação, é essencial que pais, professores e gestores escolares reflitam sobre como a tecnologia deve ser inserida no ambiente educativo. Será que a escola deve ser um espaço livre de celulares? Ou a chave está em um uso equilibrado e supervisionado das tecnologias?

Este é um debate que exige a participação de todos. Afinal, o futuro da educação – e da saúde mental dos nossos jovens – está em jogo.


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