Relatório da Oxfam revela aumento preocupante da desigualdade entre ricos e pobres
Você já parou para pensar no impacto da desigualdade em nosso cotidiano? Em meio ao crescimento econômico global e avanços tecnológicos, um relatório recente da organização internacional Oxfam lança luz sobre uma realidade preocupante: o ritmo de concentração de riqueza está acelerando, superando índices históricos.
O relatório, divulgado às vésperas do Fórum Econômico de Davos, na Suíça, apresenta números que impressionam e preocupam. Em 2024, foram criados 204 novos bilionários, elevando o número global de super-ricos para mais de 2.900 pessoas. Mas o que realmente chama a atenção é a velocidade com que essas fortunas crescem. Em média, os bilionários enriqueceram US$ 2 milhões por dia, enquanto os dez mais ricos acumularam, sozinhos, US$ 100 milhões diários.
A questão que fica é: como é possível equilibrar esse jogo? Enquanto alguns poucos acumulam riquezas inimagináveis, grande parte da população mundial enfrenta condições precárias de vida, com milhões sobrevivendo com menos de US$ 6,85 por dia.
Conteúdos
UM PANORAMA DA DESIGUALDADE GLOBAL
Segundo a Oxfam, o ritmo atual de concentração de renda pode gerar os primeiros trilionários em menos de uma década. Não um, mas cinco deles. Para efeito de comparação, uma pessoa que recebe salário mínimo no Brasil levaria impressionantes 650 anos para acumular o equivalente a US$ 2 milhões, mesmo que não gastasse nada durante esse período.
Os números mostram que, embora a extrema pobreza tenha diminuído em algumas regiões – caindo de 29,3% da população mundial em 2000 para 9% em 2023, segundo o Banco Mundial –, a desigualdade continua a crescer. Hoje, os 10% mais ricos do mundo concentram cerca de 45% de toda a riqueza global, enquanto a base mais pobre luta para sobreviver.
Além disso, o Produto Interno Bruto (PIB) global, que cresceu de US$ 33,86 trilhões em 2000 para US$ 106,7 trilhões em 2023, não reflete necessariamente uma distribuição mais justa de recursos. O aumento da riqueza global está, em sua maioria, concentrado nas mãos de uma pequena elite.
A DESIGUALDADE ENTRE RICOS E POBRES NO BRASIL
No Brasil, a desigualdade tem contornos ainda mais nítidos. Por aqui, enquanto milhões enfrentam fome, insegurança alimentar e condições de vida precárias, menos de 100 indivíduos concentram R$ 146 bilhões. Essa disparidade não é apenas reflexo de uma economia global desigual, mas também de um sistema tributário que favorece os mais ricos.
Viviana Santiago, diretora executiva da Oxfam Brasil, analisa:
“Ao mesmo tempo em que temos pessoas sem acesso a necessidades básicas, como água potável e saneamento, também temos uma elite bilionária acumulando fortunas. Durante a pandemia, enquanto milhões perderam tudo, o Brasil viu o surgimento de dez novos bilionários. Essa desigualdade está enraizada em um sistema fiscal que penaliza os mais pobres e favorece a elite.”
Essa lógica é reforçada por um sistema de impostos regressivos, onde a população mais pobre compromete 70% de sua renda com consumo, enquanto os mais ricos conseguem explorar brechas fiscais para acumular ainda mais recursos.
DESIGUALDADE E HERANÇAS DO COLONIALISMO
O relatório também aponta que a concentração de riqueza não é um fenômeno isolado ou recente. Há raízes profundas no colonialismo e na forma como ele moldou as estruturas econômicas e sociais globais. As instituições financeiras e culturais do chamado Norte Global – como bancos, universidades e empresas de tecnologia – concentram riqueza e poder, perpetuando um sistema de exploração que afeta, principalmente, os países do Sul Global.
Essa dinâmica cria um ciclo vicioso, onde políticas globais, como a taxação de alimentos e medicamentos, afetam desproporcionalmente os mais pobres. Além disso, países em desenvolvimento enfrentam juros altos em empréstimos internacionais e restrições draconianas impostas por instituições como o FMI e o Banco Mundial.
No entanto, há um contraponto: o crescimento econômico asiático, liderado pela China, foi capaz de tirar milhões da pobreza extrema. Ainda assim, sem mudanças estruturais mais amplas, o impacto positivo desse crescimento é limitado.
É POSSÍVEL REVERTER ESSE CENÁRIO?
Se a desigualdade parece intransponível, o relatório da Oxfam lembra que mudanças são possíveis – desde que haja vontade política e comprometimento coletivo. As soluções propostas incluem ações ousadas, como:
- REDUZIR RADICALMENTE A DESIGUALDADE: Estabelecer metas globais e nacionais para redistribuir a riqueza de forma mais equitativa. Por exemplo, limitar a renda dos 10% mais ricos para que não ultrapasse a dos 40% mais pobres.
- REPARAR AS FERIDAS DO COLONIALISMO: Reconhecer formalmente os crimes do período colonial, implementar reparações às vítimas e garantir que essa memória seja preservada.
- REFORMAR INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS: Mudar a governança de organizações como o FMI e o Banco Mundial para acabar com o domínio do Norte Global e promover maior soberania econômica para os países em desenvolvimento.
- TRIBUTAR OS MAIS RICOS: Criar políticas tributárias globais que exijam mais contribuições das elites econômicas, reduzindo a concentração de riqueza.
- PROMOVER A COOPERAÇÃO SUL-SUL: Incentivar alianças entre países em desenvolvimento para fortalecer suas economias e reduzir a dependência do Norte Global.
UMA REFLEXÃO PARA O FUTURO
Quatrocentos anos atrás, Miguel de Cervantes escreveu em “Don Quixote” que “mudar o mundo não é loucura, é justiça“. Hoje, diante dos desafios expostos pelo relatório da Oxfam, essa mensagem continua mais atual do que nunca.
Será que estamos prontos para enfrentar os “moinhos de vento” da desigualdade? Ou continuaremos perpetuando um sistema que beneficia poucos em detrimento de muitos?
Mudanças estruturais são possíveis, mas exigem coragem política e mobilização social. Afinal, o futuro de bilhões de pessoas depende de decisões tomadas agora.
Para se aprofundar nesse tema e conhecer as propostas completas da Oxfam, acesse o relatório completo em oxfam.org.
O mundo pode parecer um palco de injustiças, mas sempre há espaço para mudanças. A verdadeira questão é: estamos dispostos a lutar por elas?
Com informações de Agência Brasil
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