O Brasil e a opinião viciada

Por Caleb Clarindo
A política brasileira há anos se desenrola em um ambiente polarizado, onde a formação da opinião pública muitas vezes é mais influenciada por narrativas do que por fatos concretos. Esse fenômeno pode ser chamado de “opinião viciada” — um ciclo em que as pessoas consomem informações que apenas reforçam suas crenças pré-existentes, evitando qualquer reflexão crítica que possa desafiá-las.
A Construção da Bolha Ideológica
Com o avanço das redes sociais e da comunicação instantânea, tornou-se comum que grupos políticos se cerquem de fontes de informação alinhadas aos seus interesses. Isso cria verdadeiras “bolhas ideológicas”, onde apenas determinadas versões dos fatos são consideradas legítimas. No Brasil, esse fenômeno é evidente tanto na direita quanto na esquerda, embora com estratégias e intensidades diferentes.
Na extrema-direita, o uso de desinformação e teorias conspiratórias tem sido um método eficaz para mobilizar seguidores e desacreditar adversários. O bolsonarismo, por exemplo, soube explorar esse mecanismo, transformando a desconfiança nas instituições democráticas em um pilar central de seu discurso. O ataque constante à mídia tradicional e às universidades faz parte de uma estratégia para consolidar a visão de que qualquer narrativa contrária ao bolsonarismo é falsa ou manipulada.
Por outro lado, setores da esquerda, embora menos propensos à disseminação de fake news, também se fecham em discursos que, às vezes, simplificam demais a realidade política e econômica. Há uma tendência de reduzir adversários a caricaturas e de interpretar qualquer crítica interna como uma ameaça à unidade do campo progressista. Isso pode dificultar autocríticas necessárias e limitar o alcance de propostas que poderiam dialogar com setores mais amplos da sociedade.
O Papel da Mídia e das Redes Sociais
A grande mídia brasileira também tem responsabilidade nesse processo. Durante anos, adotou uma postura que favoreceu a ascensão da extrema-direita, seja ao minimizar os riscos do bolsonarismo antes da eleição de 2018, seja ao criar a falsa equivalência entre governos progressistas e a corrupção sistêmica. Além disso, o sensacionalismo e a priorização de manchetes chamativas muitas vezes distorcem debates complexos, reforçando percepções simplistas.
As redes sociais, por sua vez, operam sob algoritmos que favorecem o engajamento, e nada engaja mais do que a polarização e o conflito. Dessa forma, as plataformas digitais se tornaram grandes amplificadoras da “opinião viciada”, onde o debate político se reduz a curtidas, compartilhamentos e cancelamentos, em vez de argumentos bem fundamentados.
Como Romper o Ciclo?
O desafio de combater a opinião viciada no Brasil exige esforços em várias frentes. No campo progressista, é fundamental investir em comunicação eficaz, que dialogue com diferentes camadas da sociedade e que não caia na armadilha de falar apenas para os já convencidos. Isso significa abandonar um tom meramente acadêmico ou militante e apostar em uma linguagem acessível e conectada às preocupações concretas da população.
Além disso, é preciso fortalecer a educação política, estimulando o pensamento crítico desde cedo. Iniciativas que promovam o debate aberto e a checagem de informações podem ajudar a reduzir a influência da desinformação e das narrativas simplificadas.
Por fim, a reconstrução do diálogo democrático passa pelo reconhecimento de que a política não pode ser tratada como um jogo de soma zero. O Brasil precisa superar a lógica do “nós contra eles” e construir um ambiente onde as divergências possam ser debatidas sem que se transformem em guerras culturais permanentes. Caso contrário, a “opinião viciada” continuará sendo um obstáculo para qualquer projeto de transformação real do país.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não necessariamente reflete a opinião do Portal Conecta SC