ESG: como fazer de forma sustentável a gestão das viagens corporativas?

*por Cibeli Oliveira, Product Manager da Paytrack, empresa especializada em gestão de viagens e despesas corporativas

Mesmo com os avanços na tecnologia e a conscientização cada vez maior a respeito de temas como sustentabilidade e proteção ao meio ambiente, grandes corporações e multinacionais ainda enfrentam desafios na implementação da agenda ESG. Um desses grandes desafios é a gestão das viagens corporativas: afinal, viajar de forma eficiente sem deixar algum grau de pegada de carbono ainda é impossível. As viagens impactam diretamente o “e” de “ESG”, ou seja, o “environmental”, ou “ambiental”. Assim, é preciso uma gestão consciente e pró-ativa que ajude a fazer das viagens corporativas um aspecto do dia a dia das empresas que seja, o tanto quanto possível, um impulsionador das pautas ESG.

Do combustível usado nas companhias aéreas e em carros alugados até os níveis de consumo de água em hotéis, passando pelos resíduos gerados na realização de eventos (como copos, canudos e garrafas plásticas), ou pelos processos de lavagem de roupas de cama e banho nas hospedagens – tudo isso influencia o quão sustentáveis serão as viagens realizadas pelos colaboradores de determinada empresa.

Hoje, muitas corporações medem seus níveis de agressão ao meio ambiente e buscam formas de compensar. Felizmente, também há diversas empresas do segmento de viagens adotando medidas que têm o objetivo de tornar suas operações mais sustentáveis: as companhias aéreas Azul, GOL e LATAM, por exemplo, já anunciaram seu compromisso de se tornarem net zero (ou seja, buscar a neutralidade de carbono, tentando reduzir suas emissões de gases de efeito estufa na atmosfera).

Grandes locadoras de veículos também já estão mais evoluídas neste quesito: a Localiza, por exemplo, já se comprometeu com a transparência de suas emissões de carbono e anunciou a adoção da energia solar, tendo como objetivo uma matriz energética mais verde. No mercado hoteleiro, grandes redes também vêm avançando na adoção de práticas sustentáveis: a rede Bourbon Hotéis & Resorts anunciou um compromisso de passar a utilizar apenas energias provenientes de fontes limpas, renováveis e rastreáveis. Já as redes IHG e Marriott afirmam estar removendo todos os produtos de higiene pessoal de uso único de suas propriedades, mudança que pode economizar mais de 200 milhões de garrafinhas anualmente, em todo o mundo. Em Las Vegas, o Caesar’s Palace economizou 30 milhões de galões de água em um ano ao implementar um programa de reutilização de toalhas: normalmente, lavanderias são responsáveis por cerca de 16% do uso de água em um hotel.

No Brasil, porém, há um desafio: 92% dos hotéis são independentes, e têm uma força menor de transformação quando comparados com grandes redes hoteleiras internacionais.

Medidas a adotar na busca por uma gestão de viagens mais sustentável

Um grande entrave à implementação de práticas mais sustentáveis nas viagens é externo: a dificuldade de identificar fornecedores e parceiros que estejam de fato alinhados com a cultura ESG – especialmente no Brasil, onde essas iniciativas e informações ainda não estão tão bem estruturadas, e poucas vezes são anunciadas e divulgadas de forma clara.

Há, porém, medidas relativamente simples que podem ser adotadas em qualquer companhia e que contribuem em muito para uma gestão mais sustentável das viagens corporativas. A primeira delas é óbvia: avaliar criteriosamente a real necessidade de cada viagem; priorizando, sempre que possível, reuniões e eventos virtuais. Quando a viagem de fato se fizer necessária, escolha e dê preferência a fornecedores (hotéis, companhias aéreas, locadoras de veículos) que se comprometem a adotar práticas de ESG em seus processos.

Mesmo quando não for possível avaliar o comprometimento dos fornecedores e parceiros quanto às práticas ESG, é possível adotar, por conta própria, algumas medidas que, em si, tornam as viagens corporativas mais sustentáveis: priorizar voos diretos, sem escalas, por exemplo; e também hotéis próximos aos locais de destino – quanto mais próxima a hospedagem for do destino final, menor a pegada de carbono. Da mesma forma, nos deslocamentos terrestres, sempre que possível, escolha aqueles menos poluentes, como transporte público e veículos híbridos.

Outras práticas importantes são apoiar restaurantes e vendedores locais, adotar aplicativos de viagens (que eliminam a geração de vouchers impressos), e implementar processos de neutralização da pegada de carbono gerada pelas viagens dos colaboradores. Na nossa plataforma, por exemplo, a pegada de carbono das viagens já é mensurada automaticamente, e as empresas têm acesso aos dados necessários para compensar as emissões geradas.

Mas o principal, claro, é provocar uma mudança de percepção e de cultura dentro da empresa a respeito da importância da agenda ESG. Isso porque as viagens sustentáveis ainda podem ter um custo imediato maior; e, sem uma percepção clara da importância das práticas ESG, pode ser difícil convencer um executivo a respeito dos ganhos a longo prazo.

Muitas empresas ainda encaram medidas de sustentabilidade em viagens como um custo adicional ao processo – em vez disso, porém, a observância da agenda ESG tende a ser, cada vez mais, um gerador de valor para a empresa, o negócio e o colaborador. Essas práticas devem ser uma realidade cultural e aplicada, e, claro, fazer parte da política de viagens de toda organização.

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