Artigo de Maurício dos Santos
Enquanto as palavras formam a base da linguagem, o silêncio complementa a comunicação humana, transmitindo nuances e emoções que as palavras por si só podem não ser capazes de expressar. O silêncio é uma pausa reflexiva que dá tempo para a reflexão, permitindo que as palavras adquiram significado e profundidade.
Você já parou para pensar no poder do silêncio? Na psicanálise, o silêncio pode se tornar uma ferramenta poderosa para o processo terapêutico. Na comunicação política é uma estratégia de exercer o poder do não dito.
Muitas vezes, as palavras não são suficientes para expressar emoções profundas ou traumas enraizados. É nesses momentos que o silêncio se torna essencial. O silêncio se torna um convite para explorar as camadas mais ocultas da mente e revelar segredos que podem estar bloqueados.
É nesses momentos de pausa que o temos a oportunidade de refletir sobre nossas próprias experiências e emoções. O silêncio se torna um espaço de introspecção e autoexploração, permitindo se conectar com seu mundo interno e desenvolver um maior autoconhecimento.
Jacques Lacan promoveu no campo psicanalítico uma reinvenção, que se dá a partir da retomada do ato fundador de Freud: o da escuta sistemática dos efeitos estruturantes da linguagem sobre o corpo e a subjetividade. Isso é democracia!
A comunicação não verbal desempenha um papel fundamental, e o silêncio é uma forma poderosa de expressão não verbal. Muitas vezes, as expressões faciais, gestos ou posturas corporais podem transmitir mais informações do que as palavras faladas.
No mundo agitado em que vivemos, é fácil perdermos contato com nossa voz interior. O silêncio oferece um espaço seguro para resgatar essa voz interior. Ao ficar em silêncio, podemos nos conectar com nossos desejos mais profundos, nossas necessidades autênticas e nossos valores essenciais. É nesse momento de contemplação silenciosa que encontramos clareza e direção para nossas vidas. Em resumo, a técnica do silêncio na psicanálise é uma ferramenta poderosa que permite ao paciente explorar seu mundo interno, descobrir segredos ocultos e encontrar soluções criativas para seus problemas. O silêncio é um convite para a reflexão, a introspecção e a conexão com nossa voz interior mais autêntica. Na relação terapêutica, o poder do silêncio é verdadeiramente transformador.
Como destacou Lacan, “o silêncio toma todo o seu valor de silêncio, não é simplesmente negativo, mas vale como além da palavra” (1954:322). O silêncio é um dizer que faz surgir um sentido, a saber, na pausa, nos intervalos, nas reticências.
Sigmund Freud aponta que essa alteridade radical, silêncio estrutural do ser, expressa pelo unheimlich, se liga à angústia infantil do estado de desamparo primordial. Se no início é o silêncio, no final também é o silêncio. Esse seria o silêncio primordial do qual fala Kovadloff em seu livro.
O silêncio pode acalmar, ferir, amparar ou violentar. Em algumas ocasiões pode trazer paz, em outras, tempestades. O silêncio também pode corresponder à reflexão, a um turbilhão de pensamentos pulsando dentro de nós. A verdade é que aprendemos a suportar o excesso de barulho e nos assustamos mesmo com o poder do silêncio.
Autor: Maurício dos Santos é jornalista, especialista em Ciência Política e Mestre em Gestão de Políticas Públicas
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