Você já parou para pensar em como as tradições, a língua e a cultura alemã se mantêm vivas em algumas cidades brasileiras? Entre as várias regiões colonizadas por imigrantes alemães no Sul do Brasil, destaca-se São João do Oeste, reconhecida oficialmente como a Capital Catarinense da Língua Alemã. Em 2024, o Brasil celebra 200 anos da imigração alemã, e São João do Oeste é um dos municípios que melhor preserva essa herança. Mas como isso acontece? O que mantém vivas as raízes germânicas em pleno século XXI?
Conteúdos
- SÃO JOÃO DO OESTE: CAPITAL CATARINENSE DA LÍNGUA ALEMÃ
- A LÍNGUA ALEMÃ COMO UM PATRIMÔNIO VIVO
- DESAFIOS E PERSISTÊNCIA: A LUTA PARA PRESERVAR A CULTURA
- FÉ E ALEMÃES: UM LEGADO RELIGIOSO QUE SE MANTÉM FORTE
- UMA SEMANA DEDICADA À CULTURA ALEMÃ: A DEUTSCHE WOCHE
- DANÇA, MÚSICA E CULTURA: O ENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE
- A IMPORTÂNCIA DOS 200 ANOS DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ
SÃO JOÃO DO OESTE: CAPITAL CATARINENSE DA LÍNGUA ALEMÃ
São João do Oeste, localizada no Extremo Oeste de Santa Catarina, vai muito além de suas belezas naturais e águas termais. Ao visitar a cidade, você perceberá rapidamente que a língua alemã não é apenas uma lembrança do passado, mas uma realidade presente no dia a dia. O dialeto Hunsrückisch, trazido pelos imigrantes do sudoeste da Alemanha, ainda ecoa nas conversas entre amigos, nas celebrações religiosas e até nos atendimentos na prefeitura. Esse forte vínculo com a língua alemã fez com que, em 2008, o município fosse reconhecido por lei estadual como a Capital Catarinense da Língua Alemã.
Em pleno século XXI, cerca de 90% da população, composta por aproximadamente 6 mil habitantes, ainda utiliza o alemão no cotidiano. Como isso é possível? O segredo está na educação, nas tradições familiares e na força de vontade das novas gerações em manter viva essa cultura.
A LÍNGUA ALEMÃ COMO UM PATRIMÔNIO VIVO
Preservar a língua alemã é mais do que uma questão de orgulho em São João do Oeste. A cidade reconhece oficialmente o alemão como língua cooficial desde 2016, ao lado do português. Essa decisão vai além de um gesto simbólico: ela está inserida na rotina escolar das crianças desde cedo.
A professora Lovane Inês Drebel, que ensina alemão no Colégio de Educação Infantil Jesus Menino, explica que o ensino do idioma começou com os primeiros colonizadores, que ofereciam aulas em edificações chamadas schulkapelle, onde também ocorriam cultos religiosos. Hoje, a educação no município inclui a versão oficial da língua alemã, o Hochdeutsch, preparando os alunos para o mercado de trabalho e abrindo portas para futuras oportunidades.
Você já pensou em como aprender duas ou três línguas pode transformar a vida de uma criança? Para as famílias de São João do Oeste, isso vai além de uma vantagem profissional. O contato com a língua alemã significa preservar um legado e garantir que as novas gerações mantenham o vínculo com suas raízes.
Confira a matéria da TV ALESC sobre o assunto.
DESAFIOS E PERSISTÊNCIA: A LUTA PARA PRESERVAR A CULTURA
Embora a tradição esteja bem enraizada, os moradores de São João do Oeste sabem que preservar a língua alemã não é tarefa fácil. Rafael Arnold, um dos residentes da cidade, expressa sua preocupação com a perda das tradições, principalmente após o fechamento de pequenas escolas rurais em 2008. Essas escolas desempenhavam um papel fundamental na preservação do idioma, já que até os sete anos de idade, muitas crianças falavam exclusivamente alemão.
Será que a modernização e as mudanças no sistema educacional colocam em risco essa herança? Para Rafael, é essencial que a comunidade continue unida e comprometida em manter vivo esse patrimônio. “Precisamos insistir para que esse costume não se perca”, ressalta ele.
FÉ E ALEMÃES: UM LEGADO RELIGIOSO QUE SE MANTÉM FORTE
Outro aspecto central na cultura de São João do Oeste é a religião. Desde sua fundação, os colonizadores alemães mantiveram um forte laço com a fé católica, algo que continua presente até hoje. A imponente Igreja Matriz São João Berchmans, um dos maiores templos de madeira da América Latina, é um testemunho da devoção dos primeiros colonos. Construída por 60 famílias entre 1945 e 1948, a igreja é um dos principais cartões-postais da cidade, atraindo turistas de várias regiões.
A fé e a cultura sempre caminharam juntas em São João do Oeste, e isso se reflete na organização da comunidade. Como o padre Hugo Mentges aponta, a construção de igrejas e escolas estava entre as principais preocupações dos imigrantes que se estabeleceram na região. Esse espírito de união e determinação é o que mantém vivas as tradições até hoje.
UMA SEMANA DEDICADA À CULTURA ALEMÃ: A DEUTSCHE WOCHE
Se você quiser vivenciar a cultura alemã em sua essência, não pode perder a Deutsche Woche (Semana Alemã), que acontece todos os anos em julho, desde 2009. Durante oito dias, São João do Oeste celebra suas tradições com música, dança, gastronomia e eventos culturais que envolvem toda a comunidade. O evento é organizado pela Associação Cultural Alemã de São João do Oeste (Acasjo) em parceria com o poder público municipal.
André Klunk, coordenador da festa, explica que a Deutsche Woche é uma oportunidade para as novas gerações se conectarem com suas raízes e manterem vivas as tradições herdadas dos primeiros colonizadores. “A cada ano, percebemos o entusiasmo das famílias em participar e transmitir esses valores para os mais jovens”, comenta Klunk.
A festa também é uma forma de fortalecer o senso de comunidade e organização que sempre foi um traço marcante dos moradores. Curiosamente, a cidade nunca teve um serviço formal de limpeza urbana, pois os próprios habitantes cuidam das ruas e das áreas públicas, mantendo-as sempre impecáveis.
DANÇA, MÚSICA E CULTURA: O ENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE
A cultura alemã em São João do Oeste não se limita ao idioma ou à religião. Ela se manifesta em diversas formas, como a música e a dança folclórica. Um dos grupos mais tradicionais da cidade é o Grupo de Danças Folclóricas Alemãs Liebe Zum Tanz, que conta com cerca de 200 participantes, de diferentes idades, que se apresentam em festivais regionais, nacionais e até internacionais.
A música também tem um papel importante, e a Orquestra Clave de Sol é um exemplo disso. Criada para jovens de 8 a 17 anos, a orquestra oferece aulas de instrumentos e canto gratuitamente, promovendo a integração social e o desenvolvimento cultural. Atualmente, o grupo está ensaiando um musical em homenagem aos 200 anos da imigração alemã, um projeto que reúne músicas tradicionais e retrata a jornada dos imigrantes para o Brasil.
Você já imaginou o impacto de participar de uma orquestra na vida desses jovens? Para muitos deles, como Raoni Bruno Wirth, de 17 anos, a experiência vai além do aprendizado musical. “A orquestra é uma grande família”, diz Raoni, que está prestes a se despedir do grupo. “É um projeto que nos enriquece culturalmente e que levamos para a vida toda.”
A IMPORTÂNCIA DOS 200 ANOS DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ
O ano de 2024 marca uma data muito especial: o bicentenário da imigração alemã no Brasil. São 200 anos de uma história que moldou a cultura, a economia e o desenvolvimento de várias regiões, especialmente no Sul do país. São João do Oeste é uma cidade que celebra essa herança com orgulho, preservando costumes e tradições que conectam as novas gerações com o passado.
Esses 200 anos representam muito mais do que um marco histórico. Eles são um lembrete de que as culturas se mantêm vivas por meio da educação, da união comunitária e da valorização das raízes. Ao visitar São João do Oeste, você verá uma comunidade que não apenas lembra suas origens, mas que vive suas tradições no dia a dia.
Quer saber mais sobre essa fascinante jornada da imigração alemã no Brasil? Explore essa rica história, visite as cidades colonizadas e celebre os 200 anos de cultura e tradição que continuam a inspirar gerações.
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