Projeções apontam crescimento alarmante no número de refugiados climáticos

Projeções apontam crescimento alarmante no número de refugiados climáticos
Foto: Rui Padilha / Acnur

O impacto das mudanças climáticas é real e já afeta milhões de pessoas. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), nos últimos 10 anos, os desastres climáticos causaram cerca de 220 milhões de deslocamentos — um número impressionante que não pode ser ignorado. Mas quem são essas pessoas? Como é a vida dos chamados refugiados climáticos?

De acordo com o relatório “Sem Escapatória: na Linha de Frente das Mudanças Climáticas, Conflitos e Deslocamento Forçado”, divulgado durante a COP29, atualmente 90 milhões de pessoas deslocadas vivem em regiões altamente vulneráveis a eventos climáticos extremos. São pessoas que enfrentam, além dos desafios impostos pelas mudanças climáticas, situações de conflito e violência em seus países.

CENÁRIOS EXTREMOS E CONSEQUÊNCIAS HUMANAS

Imagine viver em um lugar onde a temperatura atinge níveis insuportáveis, ou onde secas e inundações frequentes tornam a agricultura e o acesso à água quase impossíveis. Esse é o cenário que milhares de famílias em países como Sudão, Síria, Haiti e Somália enfrentam diariamente. De acordo com o Acnur, muitos desses refugiados tentam permanecer o mais próximo possível de suas casas, com o sonho de um dia retornar. Mas será que esse retorno é realmente possível?

A AMEAÇA DE DESLOCAMENTOS EM MASSA: NÚMEROS QUE NÃO PARAM DE CRESCER

Na última década, foram registrados em média 60 mil deslocamentos diários causados por desastres relacionados ao clima, incluindo furacões, secas e enchentes. Muitos desses deslocamentos são temporários, mas cada vez mais pessoas se veem forçadas a deixar suas terras de forma definitiva. E o futuro não promete aliviar esse quadro. “Os riscos para as pessoas deslocadas e seus anfitriões crescerão significativamente nas próximas décadas”, alerta o relatório.

O documento prevê que, até 2040, o número de países enfrentando perigos climáticos extremos poderá passar de três para 65. E o impacto do calor extremo será ainda mais crítico, com a maioria dos campos de refugiados experienciando o dobro de dias com calor perigoso até 2050. Essa situação é ainda mais alarmante quando se considera que mais de 70% dos refugiados e solicitantes de asilo vêm de países altamente vulneráveis ao clima e com poucos recursos para lidar com essa nova realidade.

DESIGUALDADE NO FINANCIAMENTO: COMO OS PAÍSES MENOS PREPARADOS PAGAM O MAIOR PREÇO

É preocupante notar que países extremamente frágeis, onde milhões de refugiados buscam abrigo, recebem apenas US$ 2,10 por pessoa em financiamento anual per capita para adaptação climática. Com tantas necessidades e recursos escassos, como essas nações podem preparar suas populações para os efeitos das mudanças climáticas?

Enquanto muitos países desenvolvidos discutem como reduzir suas emissões, apenas 25 das 166 Contribuições Nacionalmente Determinadas (CNDs) — compromissos que os países assumem para reduzir as emissões de gases de efeito estufa — incluem medidas claras sobre o deslocamento causado por desastres climáticos. O que isso revela sobre o comprometimento global em proteger aqueles que estão na linha de frente das mudanças climáticas?

IMPACTOS EM CADEIA: CLIMA, CONFLITO E DESLOCAMENTO

A relação entre mudanças climáticas e conflitos é uma realidade sombria, mas que precisa ser enfrentada. Em locais como Mianmar, República Democrática do Congo e Etiópia, a combinação entre clima extremo e violência transforma o cenário em um verdadeiro campo de batalha. Como as mudanças climáticas agravam as tensões locais, essas áreas acabam se tornando pontos críticos de deslocamento, com pessoas fugindo tanto do clima quanto da violência.

Essa realidade é cruel e implacável. E, com o aquecimento global, o quadro tende a piorar. O relatório da Acnur destaca que os países de acolhimento também sentirão os efeitos. O aumento da população de refugiados climáticos pode pressionar sistemas de saúde, educação e infraestrutura, principalmente em nações de baixa e média renda, que já enfrentam desafios próprios.

AS NAÇÕES MAIS AFETADAS E A LUTA DIÁRIA DOS REFUGIADOS CLIMÁTICOS

Viver como um refugiado climático significa encarar uma luta diária por dignidade e sobrevivência. Famílias inteiras são deslocadas, e as crianças muitas vezes perdem o acesso à educação e a condições mínimas de saúde e alimentação. Em países da África, como o Chade e o Níger, onde a desertificação avança rapidamente, a situação se torna cada vez mais crítica. E o que dizer de pequenas ilhas no Pacífico, como Tuvalu, que já perdem áreas para o aumento do nível do mar?

Esses países, que são historicamente responsáveis por uma fração das emissões globais, estão pagando o preço de um desenvolvimento mundial que não beneficiou igualmente a todos. Será justo?

COMO O MUNDO PODE AJUDAR OS REFUGIADOS CLIMÁTICOS?

O primeiro passo é reconhecer os refugiados climáticos oficialmente, o que poderia abrir caminhos para uma assistência humanitária e financiamento mais direcionados. Atualmente, as leis de refugiados são voltadas para perseguições políticas e conflitos armados, mas é evidente que os refugiados climáticos enfrentam crises que também colocam suas vidas em risco. Como o direito internacional poderia evoluir para proteger esses indivíduos?

SOLIDARIEDADE GLOBAL: UMA SOLUÇÃO SUSTENTÁVEL É POSSÍVEL?

A comunidade internacional já não pode fechar os olhos para a realidade dos refugiados climáticos. Iniciativas de adaptação climática, financiamento adequado e políticas de acolhimento humanitário são algumas das ações que precisam ser implementadas para enfrentar essa crise global. A questão não é mais “se” haverá novos refugiados climáticos, mas “quando” e “como” o mundo vai reagir a isso. Estaremos prontos?


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