Quando a juventude se organiza, ela muda o curso da história

Por Vitória Helena Tiedje

A juventude é, historicamente, um agente de mudança e transformação social. Mas, atualmente, vivemos um desafio significativo: a falta de mobilização destes jovens, reflexo de um processo de despolitização que enfraquece o engajamento em causas coletivas e os afasta do debate público. Em Santa Catarina, essa realidade se torna ainda mais preocupante diante do avanço do conservadorismo e do neonazismo. Conforme estudo enviado à ONU, a cidade de Blumenau, por exemplo, contém 63 células neonazistas, acompanhadas de um aumento significativo no discurso de ódio, especialmente direcionado às mulheres, à população negra e à população LGBTQIAPN+.

A despolitização não é um fenômeno isolado. Ela é o resultado de diversos fatores, como a falta de representatividade nos principais cargos políticos — onde raramente vemos jovens ocupando esse espaço —, a ausência de discussão sobre política nas escolas — onde muitos alunos se formam sem entender as funções dos cargos públicos e dos Três Poderes —, a polarização social — o medo de perder amigos, ser “cancelado” ou até mesmo de sofrer represálias ao expor sua opinião. Somando-se a isso, há a propagação de discursos que distorcem o papel da política, tratando-a como algo distante ou intrinsecamente corrupto.

Em Santa Catarina, essa desconexão é visível: muitos jovens ainda encaram a política como algo banal ou irrelevante. O enfraquecimento dos movimentos estudantis e a ausência de grêmios em diversas escolas enfatiza essa falta de engajamento. Esses espaços, são onde muitas sementes do interesse por mudanças são plantadas.
A juventude não é um grupo homogêneo. Inclusive, a categoria “juventude” apresenta uma especificidade.

Talvez, de todos os grupos mobilizáveis, seja aquele identificado pela característica mais transitória: a idade. As pessoas são de determinada etnia por toda a vida. Muitos dificilmente mudam de classe ou de nacionalidade. Mas a juventude tem prazo e um período relativamente curto para acabar. Ela é composta por pessoas de diferentes origens, histórias e identidades, cada uma enfrentando desafios únicos.

Reconhecer essa diversidade e rotatividade é fundamental para construir uma política inclusiva e transformadora. As pautas identitárias — como gênero, raça, sexualidade e identidade cultural — não são divisórias, mas complementares à luta de classe. O aumento do discurso de ódio mostra como essas lutas são questões de sobrevivência e resistência.

A integração das pautas identitárias com as demandas econômicas e sociais é o caminho para uma política mais ampla e eficaz. Não há como falar de luta de classe sem abordar o racismo, o machismo, a LGBTfobia e outras formas de discriminação que estruturam as desigualdades. O enfrentamento dessas questões precisa ser liderado por uma juventude organizada.

Historicamente, os jovens estiveram à frente de movimentos que mudaram o curso da história, desde a resistência à ditadura militar até as lutas mais recentes por democracia e justiça social. No movimento “Diretas Já”, foram os jovens que impulsionaram a luta pelo retorno das eleições diretas. Nos anos 90, os “caras-pintadas” foram protagonistas na campanha “Fora Collor”, mostrando ao Brasil que não se cala diante da corrupção e da injustiça.

Quando a juventude se organiza, ela muda o curso da história. Porém, na cidade em que vivo, falta uma organização que canalize o ímpeto de mudança dos jovens. Isso não é apenas uma necessidade, mas uma urgência.

Precisamos desconstruir essa ideia equivocada sobre política. A política não é o problema — ela é parte essencial da solução para os desafios que enfrentamos como sociedade. Afinal, todos nós somos seres políticos, mesmo que muitos ainda não percebam ou não se engajem diretamente na prática política.

Santa Catarina precisa de uma juventude que se veja como protagonista na construção de uma sociedade mais inclusiva e democrática. Se a política atual não os representa, então é hora de ocuparem e transformarem. É hora de enfrentar o extremismo, lutar por educação de qualidade, combater as desigualdades sociais e promover o respeito às diferenças. A juventude não é apenas o futuro; ela é o presente de uma cidade que precisa urgentemente de mudanças estruturais.

Se queremos um futuro melhor, devemos começar agora, com uma juventude consciente, mobilizada e pronta para fazer história.

Exit mobile version