Publicação aponta dados sobre metas globais sobre drogas

De acordo com um relatório recente do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), o progresso nas metas globais relacionadas às pessoas que usam drogas segue desigual. O relatório destacou como a criminalização das drogas e a negligência nas políticas de saúde têm prejudicado a resposta ao HIV. Dados mais recentes mostram que as pessoas que usam drogas injetáveis continuam sendo deixadas para trás, com prevalência de HIV sete vezes maior do que na população adulta em geral.

Sobre a publicação, foi identificado que, em 2022, a prevalência do HIV entre pessoas que usam drogas injetáveis variava de 0% a 51% em diferentes países. Mulheres que fazem uso dessas substâncias enfrentam índices ainda maiores de infecção, quase o dobro em relação aos homens. Esses números refletem disparidades regionais e de gênero, evidenciando a necessidade de abordagens mais inclusivas e baseadas em dados.

O relatório aponta que a persistência de leis punitivas e a falta de financiamento adequado para programas de redução de danos continuam a ser os principais obstáculos. Em 143 países, a posse de drogas para uso pessoal permanece criminalizada, o que dificulta o acesso dessas pessoas a serviços essenciais de saúde. Além disso, menos de 1% da população que usa drogas injetáveis vive em países com cobertura satisfatória de programas de redução de danos.

Dados apresentados no documento indicam que avanços pontuais foram observados em algumas regiões. O relatório mostra que a Estratégia Global contra a AIDS 2021–2026 estabeleceu metas importantes, incluindo a redução do estigma e a descriminalização de usuários de drogas. Em 2023, uma resolução das Nações Unidas reforçou a necessidade de políticas mais centradas na saúde e direitos humanos, com apoio à redução de danos e à liderança comunitária.

O estudo mostra que uma média de 30% das pessoas que usam drogas injetáveis nos países analisados relataram estigma e discriminação nos últimos meses, o que levou muitos a evitarem serviços de saúde. Além disso, 28% relataram ter sofrido violência no mesmo período.

Sobre o assunto, Miler Nunes Soares, médico psiquiatra e responsável pela Clínica para Dependentes Químicos Granjimmy, afirmou que mulheres que usam drogas injetáveis enfrentam uma dupla vulnerabilidade: o estigma associado ao uso de drogas e o peso adicional quando o assunto é sobre gênero, que as torna mais suscetíveis à violência. Qualquer política futura precisa reconhecer e priorizar intervenções específicas e inclusivas. “A integração de lideranças comunitárias, como mencionada na resolução de 2023 da ONU, é essencial. Pessoas diretamente impactadas pelo problema devem ocupar posições de liderança na formulação e execução de políticas. Essa abordagem pode ajudar a superar o estigma e criar soluções mais alinhadas às necessidades reais da comunidade”.

O relatório ainda indica que o UNAIDS estima que serão necessários US$ 2,7 bilhões em países de baixa e média renda para alcançar as metas de 2030. Esse investimento deve priorizar a prevenção combinada, a testagem, o tratamento e os facilitadores sociais, como redução de estigma e serviços jurídicos relacionados ao HIV.

Perguntado sobre o relatório, Miller disse que organizações nacionais e internacionais precisam adotar abordagens baseadas em evidências científicas, abandonando velhos paradigmas moralistas e punitivos. “Somente assim será possível alcançar avanços sustentáveis e verdadeiramente inclusivos”.

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