Industrialização na construção civil inclui sustentabilidade

O setor da construção civil tem crescido significativamente no Brasil nos últimos anos, com avanço de 4,1% nas atividades em 2024, segundo projeções da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). O órgão aponta ainda que o setor cresceu 21,2% desde 2019, destacando-se como área fundamental na economia brasileira.

Embora os dados sejam positivos, o aumento da demanda por infraestruturas sustentáveis acende um alerta sobre como o setor pode otimizar processos e reduzir desperdícios para minimizar o impacto ambiental.

De acordo com o engenheiro Guilherme Clementino, a industrialização da construção civil pode ser fundamental para o futuro do setor ao adotar o uso de novas tecnologias que promovam obras mais limpas, eficientes e ambientalmente responsáveis.

“A industrialização da construção civil é crucial para a sustentabilidade, pois contribui para a otimização de processos e redução de desperdícios, além de minimizar impactos ambientais com a fabricação de componentes em ambientes controlados. Isso permite maior precisão e eficiência, diminuindo o consumo de materiais e gerando menos resíduos em comparação aos métodos convencionais”, avalia o especialista.

Clementino, que é membro da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (ABCIC), explica que os materiais pré-fabricados e modulados frequentemente utilizam tecnologias avançadas durante a produção, promovendo maior eficiência energética com o uso de recursos renováveis.

“Outro fator relevante é a redução do tempo de execução das obras, o que diminui as emissões de CO₂ associadas ao transporte e à operação no canteiro. A integração de tecnologias, como o BIM (Building Information Modeling), facilita o planejamento e evita retrabalhos, maximizando o uso sustentável dos recursos”, afirma o engenheiro, que atua há mais de dez anos na área.

A implementação de tecnologias inovadoras tem se tornado um pilar fundamental para a industrialização na construção civil. Sistemas de automação, digitalização de processos e a utilização de softwares de modelagem têm permitido um planejamento mais eficiente em todas as fases do projeto.

“Práticas como reutilização de resíduos, monitoramento inteligente e adesão a certificações ambientais também são essenciais para uma construção mais sustentável. Essas abordagens promovem eficiência, economia e responsabilidade ambiental no setor”, acrescenta o profissional.

No entanto, o especialista explica que o Brasil ainda enfrenta diversos desafios para aplicar estratégias de industrialização na área de habitação, como a falta de infraestrutura e logística adequada para o transporte de módulos e componentes pré-fabricados. “Isso encarece e dificulta sua adoção em regiões remotas. Além disso, há limitações na qualificação da mão de obra, com carência de profissionais capacitados para operar tecnologias avançadas, como automação e BIM”.

O especialista afirma ainda que outro obstáculo é a baixa acessibilidade a financiamentos específicos para tecnologias industrializadas, que muitas vezes têm custos iniciais mais elevados. “Também há desafios culturais e normativos, com resistência a mudanças nos métodos tradicionais de construção e a inadequação de normas técnicas às práticas inovadoras. Por fim, a falta de incentivo governamental e políticas públicas voltadas para a construção industrializada limitam sua aplicação no setor habitacional”, completa Clementino.

Para ele, a industrialização pode oferecer vantagens tanto para as construtoras quanto para a mão de obra. “Para as empresas, há redução de custos e prazos devido à produção em ambiente controlado, maior precisão e menos retrabalhos. Isso também melhora a gestão de recursos, diminuindo desperdícios de materiais e aumentando a previsibilidade dos projetos”.

“Para a mão de obra, a industrialização proporciona melhores condições ergonômicas e de segurança, além de garantir uma maior especialização, já que os trabalhadores passam a operar máquinas e tecnologias avançadas. Isso eleva a qualificação profissional e pode resultar em melhores remunerações. Essas vantagens tornam os processos mais eficientes e sustentáveis”, diz o engenheiro, mestre em Avaliações e Perícias de Engenharia pela PUC Minas.

Preocupação com o meio ambiente

Como forma de mitigar esses efeitos, a 30ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), marcada para ocorrer pela primeira vez no Brasil em 2025, reúne líderes mundiais para debater soluções que contenham o aquecimento global e criem alternativas sustentáveis.

Para o especialista, “eventos como este evidenciam a urgência de escolhas sustentáveis na construção civil ao destacar o impacto significativo do setor nas emissões de gases de efeito estufa, no consumo de recursos naturais e na geração de resíduos”.

Segundo o Relatório de Status Global para Edifícios e Construção, compilado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o setor de edificações e construção tem contribuído significativamente para as mudanças climáticas, sendo responsável por cerca de 21% das emissões globais de gases de efeito estufa.

“A industrialização da construção permite a adoção de materiais sustentáveis, como o concreto ecológico e estruturas pré-fabricadas de baixa emissão, e sistemas de energia eficientes, alinhando o setor às políticas de neutralidade climática. Essa abordagem reflete não apenas uma resposta à necessidade operacional, mas também um modelo para o restante do mundo na transição para uma economia de baixo carbono”, finaliza Clementino.

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