No consórcio, poder de compra à vista gera economia

Nos últimos anos, o crescimento do sistema de consórcios tem sido constante. Somente no ano passado, foram vendidas 4,5 milhões de cotas, superando todas as marcas históricas anteriores.

Entre as principais razões para a grande demanda estão as características da modalidade como valor acessível da parcela mensal, prazos mais longos, baixo custo final, ausência de juros e IOF e poder de compra à vista na utilização da carta de crédito contemplada, entre outros, para aquisição de bens ou serviços de qualquer natureza.

Com relação ao poder de compra do consorciado contemplado, Luiz Antonio Barbagallo, economista da ABAC Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios, detalha que “ao estar envolvido em uma negociação, normalmente lançamos mão de alguns trunfos visando obter vantagens”.

Em uma transação de compra e venda, o vendedor tem razões de interesse pessoal que o influenciam nas condições para possível aceitação ou não de contrapropostas do comprador. Todavia, a venda pode ser pressionada pela pressa em receber o dinheiro, seja por necessidade de liquidez ou para fechar outro negócio em andamento. Quando o objetivo do vendedor é a efetivação da transação somente à vista, abre-se uma possibilidade de negociação para quem possua o recurso de imediato.

Seja qual for o motivo da necessidade, a oferta de um comprador pelo pagamento à vista sensibiliza qualquer vendedor para pronta decisão, abrindo a possibilidade da concessão de descontos sobre o valor total da transação.

A venda de bens de alto valor como imóveis, por exemplo, onde a busca por interessados que tenham condições financeiras para essa aquisição é grande, traz vantagens na transação para o comprador que possui o recurso para pagamento imediato. “Carta de crédito é dinheiro na mão e os descontos conseguidos em uma negociação vantajosa acabam por compensar parte dos baixos custos do consórcio”, resume Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da ABAC.

Se o interesse do comprador é, sem pressa, conseguir o preço mais vantajoso possível para a aquisição do bem ou serviço, é preciso planejar e uma das opções é aderir ao consórcio. Por outro lado, considerando, por exemplo, a necessidade de posse imediata e as exigências atuais para financiamento de um imóvel, será necessário arcar com o ônus dos juros, o que eleva o custo final.

Barbagallo acrescenta que “em muitas situações, o conflito entre a pressa do vendedor que necessita do dinheiro e a não disponibilidade financeira do comprador, pode demandar um tempo maior do que o primeiro pode esperar”. Trata-se de desvantagem para ambos. O economista sintetiza que “se o comprador não tem dinheiro, não há poder de compra, nem desconto e nem barganha, para fechar o negócio de imediato. Poderá até perdê-lo para outro interessado”.

Ao entender que participar do sistema de consórcios é investir para formar um patrimônio, em 2016, o casal de noivos Aline Massoqueto e Marcelo Ceccatto, de Campo Largo, Paraná, adquiriu uma cota de R$ 250 mil em um grupo de imóveis.

Pensando no futuro e sem pressa, Aline lembra que ambos decidiram não ofertar lances ou utilizar saldo da conta do FGTS. “À época, Marcelo e eu, concordamos em ser contemplados somente por sorteio, demorasse quanto demorasse”, afirmou.

Alguns anos depois, em janeiro de 2020, avisados da contemplação e já casados, ambos partiram para a escolha do imóvel na praia. Em fevereiro, durante o carnaval daquele ano, com o crédito de R$ 450 mil em mãos, originário da valorização da cota e também da mudança para um crédito de maior valor em razão da melhoria da renda mensal dos dois, o casal dirigiu-se para a praia Brava de Caiobá, em Matinhos, no litoral paranaense.

“Depois de visitarmos algumas unidades, optamos por uma que, por coincidência, pertencia a um morador de Campo Largo, onde residimos”, detalha. “O fechamento da compra e venda só aconteceu após duas tentativas de negociações com descontos. A concordância final foi a partir da oferta de pagamento à vista, utilizando o dinheiro liberado com a carta de crédito. Como o apartamento estava mobiliado, conseguimos negociar e ganhar toda a mobília sem qualquer custo, o que propiciou mais economia e ainda um saldo de R$ 30 mil”, acrescentou. “Com este valor, pagamos os impostos, escritura e outras despesas”, completa.

Para a consorciada Aline Massoqueto Ceccatto, 35 anos, analista de Recursos Humanos, e Marcelo Ceccatto, 38 anos, gerente de tecnologia, “o consórcio é o melhor caminho para adquirir um bem como um imóvel. Sem juros, pagando um pouquinho por mês e economizando quando da contemplação, recomendo a todos que desejem investir e formar patrimônio. Aliás, vou comprar uma nova cota este ano”.

Por outro lado, há consorciados cujo propósito principal é investir em empreendimentos utilizando recursos liberados nas contemplações. Valdir Nicolini, 64 anos, empresário em Colombo, Paraná, tem feito do consórcio fonte de capital para seus negócios no ramo imobiliário. “Há mais de sete anos, tenho comprado cotas de imóveis”, explica Nicolini. “Meu objetivo principal, sempre que sou sorteado, é aplicar na compra de um bem ou na construção com vista à locação”, detalha.

Ao longo do tempo, sem oferecer lances, sendo contemplado somente por sorteio, o empresário esclarece que utiliza os créditos como dinheiro, negociando valores. “Sempre obtive descontos nos fechamentos dos negócios, com abatimentos variando de 10% a 15%, inclusive na compra de materiais de construção”, complementa.

Nicolini, que também atua no ramo industrial, no setor de metalurgia para a indústria automotiva, afirma continuar participando de grupos consorciais, projetando futuros negócios.

Rossi lembra que “o sistema de consórcios tem sido procurado por consumidores que praticam a essência da educação financeira, na qual o planejamento é a base da boa gestão das finanças pessoais, profissionais, familiares e até empresariais, de maneira responsável, sem imediatismos e com equilíbrio”.

O sistema de consórcios conta atualmente com 11,37 milhões de participantes ativos presentes em vários setores da economia nacional como veículos, motocicletas, caminhões, máquinas agrícolas, implementos, imóveis, serviços e eletroeletrônicos e outros bens móveis duráveis.

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