Jeferson Tenório emociona o público na UFSC com reflexão sobre literatura e formação de leitores

Na última segunda-feira, 24 de março, o escritor Jeferson Tenório, premiado autor de O avesso da pele e De onde eles vêm, esteve na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) para uma Aula Magna que encantou uma plateia de cerca de 1.200 pessoas. O evento, realizado no Auditório Garapuvu, no Centro de Cultura e Eventos do campus de Florianópolis, teve transmissão ao vivo no canal da TV UFSC no YouTube e foi marcado por momentos emocionantes, reflexões profundas e uma verdadeira celebração da leitura e da formação de leitores.

A LITERATURA COMO EXPERIÊNCIA DE VIDA

O tema da aula, De onde eles vêm: uma reflexão sobre a formação de leitores no espaço acadêmico, ressoou com a temática do mais recente livro de Tenório, lançado em 2024 pela Companhia das Letras. A obra De onde eles vêm conta a história de Joaquim, um estudante negro que ingressa na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) pelo sistema de cotas raciais. A narrativa, inspirada na própria trajetória do autor, explora os desafios enfrentados por Joaquim em um ambiente acadêmico que se mostra hostil e excludente. Para Jeferson, o livro carrega em si as experiências de sua própria caminhada e de outros que, como ele, atravessaram os corredores da universidade em busca de um futuro melhor.

Em sua palestra, o escritor trouxe à tona a complexidade da formação de leitores, refletindo sobre como a leitura não está restrita aos livros, mas sim às vivências cotidianas e aos vínculos afetivos que formam o leitor. “Ler é um modo de vida. Escolher os livros é um modo de viver. Quando queremos que alguém leia algo, queremos que essa pessoa tenha a mesma experiência estética, sentimental, afetiva e intelectual que tivemos”, afirmou Tenório, convidando a plateia a repensar a relação com a literatura.

A LEITURA COMO UMA EXPERIÊNCIA COLETIVA

Jeferson Tenório também questionou a ideia de que a leitura é uma atividade solitária. Para ele, a verdadeira experiência da leitura acontece quando compartilhamos as emoções e os aprendizados que o livro nos proporciona com os outros. “A leitura só se completa na partilha com o outro. É quando você tem essa interlocução que dá sentido ao que leu. Considero isso quase um dever cívico, um ato ético: partilhar algo que foi tão importante para você.”

Na visão do autor, a leitura ultrapassa os muros da academia. Ela se dá em todos os espaços: nas ruas, nas praças, nas rodas de conversa. “A leitura não começa no livro. Ela começa com o corpo, com essa educação dos sentidos e a mobilização dos afetos. A leitura é um exercício de liberdade subjetiva. E imaginar é um ato de resistência”, explicou Jeferson, trazendo à tona a importância de imaginar e sonhar, especialmente para as comunidades marginalizadas, como a comunidade negra.

A LITERATURA NO COTIDIANO: A MÚSICA E O LEITURAMENTO

Uma das passagens mais emocionantes da noite foi quando Tenório convidou o público a cantar junto com ele a música Alguém me avisou, de Dona Ivone Lara. Ao som do coro, o autor refletiu sobre como a música no Brasil exerce um papel fundamental no desenvolvimento da leitura e da formação de leitores. “Se isso não é letramento, o que mais é?”, provocou, ao referir-se à letra da canção, que para muitos pode ser uma verdadeira narrativa da vida cotidiana.

No decorrer de sua palestra, Tenório também compartilhou que sua própria experiência como leitor começou em ambientes muito distantes da academia. “Eu me tornei leitor por teimosia, sem saber que estava me tornando leitor. Comecei minha trajetória literária nos terreiros de umbanda e candomblé, onde histórias e narrativas me preparavam para esse universo da leitura.”

A LEITURA COMO RESISTÊNCIA E ESCOLHA

A reflexão de Jeferson Tenório sobre a literatura como resistência foi um dos pontos centrais de sua fala. Ele contou que o personagem Joaquim, de seu livro De onde eles vêm, é um exemplo de um ser errante, que, embora permeado pelas adversidades do racismo estrutural, busca sua autenticidade na literatura. “O existencialismo lhe dá a possibilidade de ser livre, mesmo em uma sociedade nefasta e racista. A literatura sustenta a jornada de Joaquim. Ela é um caminho para a sua autonomia e liberdade.”

Tenório ainda provocou a plateia ao afirmar que a formação do leitor não deve ser vista como uma imposição, mas sim como um convite. Ele acredita que a verdadeira formação de um leitor só acontece quando há uma conexão afetiva com o livro e com a história que ele conta, sem as barreiras de uma academia distante e impositiva. “Ensinar alguém a ler é fazer com que alguém sinta o que eu senti ao ler um livro. A literatura é bela antes de ser verdadeira, e é essa experiência estética que nos marca de verdade.”

UMA NOITE DE ARTE E REFLEXÃO

O evento, que teve a participação de mais de mil pessoas, não ficou restrito apenas à palestra de Tenório. Antes de sua fala, o público foi encantado por apresentações de dança da Companhia de Dança da UFSC, que trouxeram ao palco uma combinação de técnicas corporais que ilustraram o que seria a liberdade estética e a expressão artística em um ambiente acadêmico.

Após a Aula Magna, Jeferson Tenório se dedicou a uma longa sessão de autógrafos, atendendo aos fãs que desejavam levar para casa um pedaço da obra do autor. Mais de 200 pessoas aguardaram pacientemente para obter uma dedicatória do escritor, que, além de lançar livros, compartilhou um pouco de sua visão de mundo e de sua jornada literária.

SOBRE O AUTOR E SUAS OBRAS

Jeferson Tenório é um dos grandes nomes da literatura brasileira contemporânea. Seu mais recente livro, De onde eles vêm (Companhia das Letras, 2024), segue a linha de seus romances anteriores, como O avesso da pele (2020), que lhe rendeu o Prêmio Jabuti 2021. Tenório se tornou um autor aclamado não apenas pelo Brasil, mas também internacionalmente, com sua obra traduzida em diversos idiomas.

Com sua escrita potente e carregada de significados, Tenório continua a dialogar com temas como identidade, resistência e a busca por liberdade, fazendo com que suas histórias se tornem um espelho de uma sociedade que ainda luta por equidade e respeito.

 

Fonte: Notícias da UFSC


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