Democracia restaurada: obras vandalizadas no 8/1 são recuperadas

Democracia restaurada: obras vandalizadas no 8/1 são recuperadas
Foto: Nauro Júnior/Divulgação

O 8 de janeiro de 2023, um dia que ficará marcado na história como o momento em que o patrimônio cultural brasileiro foi brutalmente atacado por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. As imagens que chegaram às redes sociais naquele domingo, mostrando vandalismo desenfreado na Praça dos Três Poderes, causaram choque e consternação em todo o país. A tentativa de depor o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que havia sido empossado uma semana antes, deixou um rastro de destruição que mobilizou imediatamente a comunidade acadêmica e cultural para a restauração das obras danificadas.

Mas como se deu esse processo de recuperação? E qual o impacto disso para a democracia e a preservação cultural no Brasil?

O IMPACTO DO VANDALISMO NO PATRIMÔNIO CULTURAL

Imaginemos a cena: é uma tarde de domingo e, enquanto muitos se distraíam com suas rotinas, Andréa Lacerda Bachettini, professora e pesquisadora do Departamento de Museologia, Conservação e Restauro da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), se deparava com um mar de mensagens e vídeos perturbadores. A violência contra o patrimônio cultural foi um golpe direto na alma da cultura brasileira, com obras de arte e mobiliário histórico sendo destruídos sem piedade.

“Foi um choque. Ver pessoas rasgando, quebrando e arremessando obras de arte e mobiliário de valor inestimável no Palácio do Planalto foi desolador”, relata Andréa. Junto com seus colegas, ela sentiu a necessidade urgente de agir, redigindo um documento de apoio ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e oferecendo a expertise da UFPel para ajudar na recuperação.

A REAÇÃO IMEDIATA E A PARCERIA COM O IPHAN

O Iphan, responsável por preservar o patrimônio cultural brasileiro, inicialmente focou em avaliar a extensão dos danos. Em meses, no entanto, uma parceria se concretizou. “Optamos por utilizar nossos próprios recursos e o potencial das universidades públicas para enfrentar o desafio”, explica Leandro Grass, presidente do Iphan. Assim, um Termo de Execução Descentralizada (TED) foi firmado, permitindo que a UFPel recebesse R$ 2,2 milhões para adquirir equipamentos e contratar bolsistas, consolidando um esforço conjunto para restaurar o que foi perdido.

O DESAFIO DA RESTAURAÇÃO: UM TRABALHO MINUCIOSO

Foi necessário montar uma estrutura laboratorial de restauração inédita no Palácio da Alvorada. A equipe, composta por cerca de 30 pessoas, trabalhou intensamente para restaurar as 20 obras danificadas. Entre as peças afetadas estavam a tela de Emiliano Di Cavalcanti, conhecida como “As Mulatas à Mesa”, e esculturas emblemáticas como “O Flautista” de Bruno Giorgi e “Vênus Apocalíptica” de Marta Minujín.

A restauração das obras não foi apenas um trabalho técnico, mas também um exercício de preservação da memória histórica e da democracia. “Foi um momento muito emocionante ver a tela de Di Cavalcanti com os rasgos, que agora, apesar de restaurados, mantêm um registro da brutalidade do ato”, lembra Andréa.

O PROCESSO DE RESTAURAÇÃO: MAIS DO QUE SIMPLES REPAROS

Cada peça restaurada não é apenas um objeto de arte recuperado, mas um símbolo da resiliência e da importância do patrimônio cultural brasileiro. A tela de Di Cavalcanti, por exemplo, teve seus rasgos cuidadosamente tratados para preservar as marcas do vandalismo como uma forma de memória. Já o trabalho com o “Flautista” e a “Vênus Apocalíptica” envolveu desafios significativos devido à extensão dos danos.

“Essas obras são do povo brasileiro e representam a vitória da democracia e da liberdade”, afirma Leandro Grass. A exposição “8 de janeiro: restauração e democracia” no Iphan, em Brasília, detalha o processo de recuperação e celebra o retorno dessas peças ao público.

DESCOBERTAS RELEVANTES DURANTE O PROCESSO

Além da restauração, o trabalho revelou novas informações sobre algumas das obras. A pintura “Pássaro” de Martin Bradley, por exemplo, foi identificada como uma peça expressionista, e um vaso cerâmico despedaçado foi reconhecido como uma Idria em Majólica italiana. Esses achados adicionam uma camada extra de valor e significado ao processo de restauração.

O IMPACTO FUTURO E A PROMOÇÃO DA CULTURA

O projeto não se limita à restauração física das obras. Inclui também a produção de um livro, um documentário e ações educativas para promover a importância do patrimônio cultural nas escolas públicas do Distrito Federal. Essas iniciativas visam não apenas restaurar o que foi perdido, mas também educar as novas gerações sobre a importância de preservar e valorizar o patrimônio cultural.

UM EXEMPLO DE RESILIÊNCIA E VALORIZAÇÃO DA DEMOCRACIA

O trabalho de recuperação das obras vandalizadas no 8 de janeiro de 2023 é um exemplo marcante de como o patrimônio cultural pode ser um símbolo de resistência e resiliência. Através da parceria entre a UFPel e o Iphan, o Brasil mostra ao mundo seu compromisso com a preservação da história e da democracia. A recuperação dessas obras não é apenas um ato de restauração, mas uma afirmação da importância da cultura e da liberdade.


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Fonte
Agência Brasil
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