Conteúdos
- RESTRIÇÃO SIM, MAS COM DIÁLOGO E ESTRATÉGIA
- A LEI PRECISA CONVERSAR COM A REALIDADE DAS ESCOLAS?
- A VOZ DE QUEM VIVE A ROTINA ESCOLAR
- TECNOLOGIA NÃO É O VILÃO — FALTA INFRAESTRUTURA?
- MAIS QUE APRENDIZADO: UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA?
- QUEM VAI CUIDAR DO CELULAR DO ESTUDANTE?
- DADOS, REFLEXÕES E UMA PROPOSTA COLETIVA
- UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA
Na última segunda-feira (7), a Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa de Santa Catarina abriu espaço para um tema que tem mexido com a rotina escolar em todo o país: o uso de celulares dentro das salas de aula. A audiência pública, proposta pela deputada Paulinha (Podemos), colocou no centro do debate as consequências — e as possibilidades — do uso de tecnologia no ambiente escolar.
RESTRIÇÃO SIM, MAS COM DIÁLOGO E ESTRATÉGIA
O consenso entre os participantes foi claro: a restrição ao uso do celular é necessária. Mas e quanto ao potencial pedagógico dessas ferramentas? Essa foi a provocação que permeou o encontro.
Para Luíza Seibert, vice-presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), o excesso de tempo na tela compromete o rendimento dos alunos. “O uso do telefone durante as aulas e no recreio faz com que os alunos tenham defasagem na sua aprendizagem”, apontou. Ainda assim, ela defendeu o acesso a tecnologia de qualidade para todos. “As escolas precisam oferecer internet rápida e meios digitais eficientes para professores e estudantes.”
A LEI PRECISA CONVERSAR COM A REALIDADE DAS ESCOLAS?
Nathan Rech, presidente da União Catarinense de Estudantes (UCE), reforçou o incômodo com a falta de diálogo que antecedeu a regulamentação do uso dos celulares. “Sentimos que foi uma lei imposta, que não passou pela discussão e diálogo para se entender os efeitos, mas a gente compreende que vem de acordo com a realidade da escola”, avaliou.
Para ele, o sucateamento de laboratórios de informática acaba empurrando os alunos para o uso dos próprios dispositivos móveis como ferramenta de estudo. A provocação está lançada: como equilibrar a restrição sem abrir mão da inclusão digital?
A VOZ DE QUEM VIVE A ROTINA ESCOLAR
O debate também trouxe experiências do dia a dia. Kênia Scarduelli, diretora de Ensino da Secretaria de Estado da Educação, compartilhou o relato de seu filho estudante:
“Achei bom, hoje todo mundo conversou e achou que era melhor e no recreio fomos jogar pingue-pongue”.
Já o presidente do Conselho Estadual de Educação, Osvaldir Ramos, explicou que a legislação prevê exceções. “Não existe proibição, a questão é que precisamos definitivamente dar segurança para o professor”, afirmou. Para ele, o celular em sala, quando mal utilizado, enfraquece a autoridade docente. “Tem pai e mãe que ficam mandando mensagens o tempo inteiro para os filhos. Se é uma situação de emergência, tem o telefone da escola.”
TECNOLOGIA NÃO É O VILÃO — FALTA INFRAESTRUTURA?
Para Eduardo Gutierres, secretário-adjunto de Educação de Florianópolis, não se trata de um confronto entre escola e tecnologia. “Ninguém é contra o uso de novas tecnologias na escola”, afirmou. Ele lembrou que a legislação federal que trata da restrição permite que os contextos locais sejam levados em conta. E propôs uma solução prática: “Vamos levar os debates para as escolas”.
MAIS QUE APRENDIZADO: UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA?
A representante do Ministério Público de Santa Catarina, Danielly Samara Besen, foi além da discussão pedagógica. Para ela, o excesso de tempo em frente às telas pode afetar profundamente a saúde mental dos estudantes.
“Os índices de suicídio e de automutilação… acho que o uso do celular vale nessa discussão”, afirmou.
Ela também alertou: muitos alunos estão saindo do ensino básico “sem saber o mínimo”, o que reforça a necessidade de mudanças concretas — que não podem acontecer sem alternativas como bibliotecas, espaços de convivência e laboratórios funcionando de verdade.
QUEM VAI CUIDAR DO CELULAR DO ESTUDANTE?
Do ponto de vista dos professores, representados por Alvete Pasin Bedin, coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinte/SC), a preocupação é prática:
“Para uso pedagógico está liberado, mas o professor precisa de formação para saber como atuar”, disse. Ela também criticou a prática de recolher os celulares em caixas: “É muito preocupante”.
A cidadã Monaliza Fittarelli Tonin, última a falar, trouxe uma perspectiva diferente: defendeu que os alunos permaneçam com seus aparelhos para se protegerem de possíveis abusos cometidos por professores.
DADOS, REFLEXÕES E UMA PROPOSTA COLETIVA
Encerrando a audiência, a deputada Paulinha trouxe dados alarmantes. Segundo ela, 78% das crianças e 84% dos adolescentes não praticam atividades físicas regularmente, em razão do uso excessivo das telas. Ela ainda alertou para questões de autoestima, postura corporal, saúde ocular e auditiva causadas pelo abuso dos dispositivos móveis.
“Eles têm esses direitos, mas os professores estão preocupados, o celular atrapalha. Mas se ficar na caixinha, é mais uma responsabilidade para o professor? Ou a responsabilidade será atribuída à direção? Se o telefone for furtado, quem vai responder por isso?”, questionou.
Como alternativa, Paulinha sugeriu lançar um concurso público de ideias, em que alunos e educadores possam propor maneiras criativas e viáveis de lidar com a questão do uso do celular nas escolas.
UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA
O Projeto de Lei nº 034/2024, de autoria da deputada, está atualmente em tramitação na Comissão de Educação e Cultura da Alesc. E uma coisa é certa: o futuro do uso de celulares em sala de aula, ao menos em Santa Catarina, está longe de ser decidido por decreto. Ele será moldado com diálogo — e com escuta ativa de quem realmente vive o ambiente escolar.
Fonte: Agência AL
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